Esse espaço é destinado para textos escritos pelos Irmãos Maristas.

Confira a reflexão escrita pelo Irmão Ronaldo Luzzi, da Província Marista Brasil Centro-Sul, e que atua em Jaraguá do Sul (SC).

Caos e silêncio

Eu gosto de escrever.
Por mais que áudios e conversas sejam mais legais e intimistas, acredito que a escrita consegue colocar a relação numa perspectiva que respeita mais a outra pessoa que a fala em si, pois oportuniza que seja dada à conversa uma perspectiva única: a da interpretação quase hermenêutica advinda da interface do outro. Coisa que quando a fala falada predomina não é possível.
Com isso apenas quero dizer que às vezes prefiro escrever a falar.

São tempos de Deus esse que vivemos. E essa é a primeira ideia a qual quero me ater. E não importa em que Deus você acredite. No fim, Deus é Deus. Ponto.

Parece que fomos lançados para o olho do furacão, para o centro do turbilhão cataclísmico que representa exatamente a vida que temos levado. À primeira vista encontramos exatamente o que esperávamos: caos. Mas logo que nossa “vista” mundana se acostumou no vórtice, fomos catapultados para algo que nos incomodou muito, lá mesmo no olho do furacão: a calmaria, o silêncio, a solidão…

Como seria possível viver ali? Quando ansiávamos pelo torvelinho inebriante de nossas angústias, deparamo-nos com a lânguida imanência do silêncio. Que solavanco em nossas expectativas!

Não, definitivamente não sabemos como lidar com o silêncio… e pior, dele, necessariamente, emana a solidão! Outro golpe baixo em nossas pretensões “apocalípticas” nesse nosso fim do mundo não anunciado!

Então, minha cara, veio a crise.
A crise de termos que nos acostumar com o corriqueiro ritual de nos vermos todos os dias com a certeza de que não nos veriam… a crise de levantarmos e trilharmos as mesmas trilhas para o mesmo espectador aplaudir… a crise de sermos obrigados a ouvirmos o próprio coração pulsar de angústia por já não termos plateia, por já não termos juízes, por já não termos a quem exibir-nos.

São tempos de Deus.
Pois apenas nos tem sobrado ele… que habita no escondido de nós mesmos, na crise que nos desmonta… no silêncio bravio de nossa solidão mais ancestral. Pudera ser diferente?
Quando nascemos o fazemos na solidão das dores de nossa mãe! Quando morremos apenas silenciamos uma vida de ruídos nos murmúrios inefáveis de um túmulo prestes a ser abandonado.

Me parece justo, enfim, que dediquemos algum tempo nesse meio, entre nascer e morrer, justamente para equilibramos esses dois episódios quase cômicos.

Não sei como você chama seu Deus.
Sei apenas que ele está no ângulo do fiel dessa nossa balança da vida… apenas tentando equilibrar o nosso antes com o nosso depois. E parece estar conseguindo.

Se seremos melhores depois disso?
Apenas se passarmos a dar mais importância ao fiel da balança do que aos pratos que pesam para lá ou para cá.

Aproveite e contemple o vazio que se mostra em seu horizonte e sinta o sabor da solidão e do esquecimento! Contemple o silêncio que faz ecoar dentro do seu peito as verdades que há tempos você não escuta! Veja-se como única pessoa no mundo e única a importar realmente para mudar tudo em todos! Bem-vinda seja ao caos ancestral do silêncio e da escuridão de Deus antes de sermos quem somos!

Pois no princípio era o caos… mas alguns dias depois, todo o caos deu lugar a tudo!