Novo papiro relata milagre de Cristo e reflete informações relevantes sobre essa época
Você sabe, afinal, como foi a infância de Jesus? Este é tema que sempre despertou grande curiosidade, especialmente devido ao silêncio dos evangelhos canônicos sobre os primeiros anos de vida do Cristo. Com exceção dos relatos do nascimento e de uma breve passagem sobre sua ida ao templo aos 12 anos, as Escrituras pouco abordam essa fase da vida de Jesus. No entanto, textos apócrifos, como o Evangelho de Pseudo-Tomé, trazem um vislumbre fascinante do menino que, segundo a tradição, já demonstrava sinais de seu poder divino desde muito jovem.
Uma das histórias mais conhecidas do Evangelho de Pseudo-Tomé narra um milagre realizado por Jesus quando tinha 5 anos. No relato, ele brincava junto a um riacho em um sábado, dia sagrado para os judeus, quando modelou doze pardais de barro. Ao ser repreendido por seu pai, José, por violar a lei de descanso do sábado, Jesus bateu palmas e deu vida aos pássaros de barro, que voaram. Este episódio é apenas um exemplo de como os textos apócrifos descrevem um menino Jesus, que era ao mesmo tempo divino e humano, explorando seus dons em um mundo que ainda não compreendia sua verdadeira natureza.
Embora o Evangelho de Pseudo-Tomé não faça parte dos textos canônicos, ele reflete a tentativa dos primeiros cristãos de interpretar a infância de Jesus à luz de sua divindade e humanidade. Muitos dos milagres atribuídos a Jesus nesse período, como o caso do sábado, guardam semelhanças com suas ações na vida adulta. No entanto, é importante considerar o caráter fantasioso de algumas dessas narrativas, o que provavelmente levou a Igreja a não as incluir no cânone.
Novas descobertas
Recentemente, um fragmento do Evangelho de Pseudo-Tomé foi encontrado em papiros que datam dos séculos IV e V. A descoberta foi feita pelos pesquisadores Gabriel Nocchi Macedo e Lajos Berkes, que identificaram o manuscrito entre documentos arquivados na Universidade de Hamburgo. Essa descoberta revelou o manuscrito mais antigo já encontrado sobre esse relato, reforçando a importância histórica e literária desse texto apócrifo. Segundo os estudiosos, o papiro encontrado contém um trecho desse famoso evangelho, oferecendo mais uma peça do quebra-cabeça da história cristã antiga.
Esses textos são relevantes para estudiosos e teólogos, pois oferecem pistas sobre as primeiras interpretações da vida de Cristo e aspectos do cristianismo primitivo, ainda que não sejam historicamente confiáveis em todos os seus detalhes. . Leia a matéria da BBC News sobre o papiro aqui.
Uma visão marista e cristã sobre a infância de Jesus
Para aprofundar a reflexão sobre a infância de Jesus, conversamos com o Ir. Ivo Antônio Strobino, que trouxe um olhar focado na formação familiar de Jesus e no papel de Maria e José em sua vida. Segundo o Ir. Ivo, “O valor da família é incontestável em sua formação inicial. Todo o tempo passado junto à família, isto é, antes da vida social, antes de sair para o mundo, é fundamental. Há uma influência fortíssima que Jesus deve ter recebido dos exemplos e atitudes de José (um homem justo), e de Maria, a mulher de fé, da escuta e da atuação servidora”, afirma o Irmão.
Ele explica que temos apenas um relato sobre Jesus adolescente, aos 12 anos, quando fica no Templo de Jerusalém. Seus pais o procuram com certa aflição. “Jesus recebe um puxão de orelhas da Mãe: ‘Por que fizeste isso conosco? Teu pai e eu te procurávamos aflitos…’. Jesus fala de vocação (Devo estar na casa do meu Pai do céu…) e mostra-se obediente (Desceu com eles para Nazaré e na companhia deles, de seus pais terrenos, crescia em sabedoria, em estatura e em graça)”.
Um ponto importante destacado pelo Ir. Ivo é que os textos apócrifos não são relatos aceitos. “É uma narração apócrifa, não verdadeira. Sempre devemos acentuar que se trata verdadeiramente da ‘encarnação’, de Jesus feito homem, vivendo verdadeiramente nossa humanidade… Nasceu como nós. Precisou do colo de Maria, do aleitamento materno, precisou aprender a falar, a andar, a rezar…”, reflete. “Os milagres ou sinais que realizará na vida pública são fruto da sua união íntima com o Pai celeste, com Deus Pai, a quem invoca com confiança. Nada de milagres em favor pessoal, para levar uma vida terrena diferente da nossa, com privilégios”.
Essa visão nos convida a refletir sobre a humanidade de Jesus em sua plenitude, não apenas como figura divina, mas como alguém que também passou pelos processos naturais de aprendizado e formação, influenciado pela família e pela comunidade ao seu redor.
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