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A capacidade de discutir e comunicar ideias com clareza e gentileza diante do outro é um dom divino. Jesus foi o maior exemplo que já vimos. Mesmo com tantas dúvidas ao seu redor, ataques à sua mensagem, Cristo sempre escolheu o diálogo e o caminho da paz.
Marcelino Champagnat foi um discípulo exemplar de Jesus, e trilhou um caminho semelhante. Reunia seus companheiros ao redor da mesa de La Valla para conversar e compartilhar sentimentos e sonhos para a congregação de fé que surgia.
Pensamentos e ideologias diferentes podem gerar conflitos entre amigos e familiares, e há uma série de abordagens disponíveis para facilitar a conversa. Uma delas é a Comunicação Não-Violenta (ou CNV).
Para que uma conversa não se pareça com um embate, que mais destrói do que constrói, é necessário empatia, escuta ativa e respeito mútuo. Falamos e ouvimos a todo momento: em casa, no trabalho, nos relacionamentos; e por muitas vezes, quando ouvimos, fazemos para responder, e não compreender. Quando falamos, professamos ideias com o objetivo de convencer o outro lado.
Como sair deste ciclo vicioso de batalhas travadas nos diálogos?
A Comunicação Não-Violenta
Para Marshall Rosenberg, idealizador da CNV, o segredo para a comunicação de qualidade está na empatia e na compaixão. Não há apostila ou manual, no entanto. Para o psicólogo, a abordagem é sobre estimular práticas e atitudes em todos os indivíduos para que eles permaneçam humanos durante suas trocas.
Para isso, é necessário criar um estado de consciência que incentive a empatia e a compaixão pelo outro dentro de si. Isso pode se resumir, muitas vezes, em praticar a escuta ativa: escutar para entender, não para responder. Ou, ainda, em pensar antes de falar. Segurar os impulsos humanos quando nos sentimos desconfortáveis é, sem dúvida, um desafio — mas um que nos faz melhores.
Como aplicar a CNV
Quando alguém se expressa, através da fala e também com o corpo, está falando muito mais do que as palavras entregam: por trás de tudo que é dito há uma necessidade sendo apresentada.
Identificar a necessidade da pessoa, ouvi-la e entendê-la é o que gera a real conexão. É a sensação de “eu te escuto, eu te vejo”, “eu estou aqui”. Muitas vezes uma criança frustrada se comportando de maneira agressiva está tentando demonstrar uma necessidade — mas ainda não sabe como fazê-lo de outra maneira.
Mas para Rosenberg, isso não se limita à infância. Se por trás de todo comportamento existe uma necessidade pulsante, é para ela que devemos olhar quando buscamos a razão do conflito, é ali que está a chave para um diálogo saudável, construtivo, sem pressupostos e ataques.
Pontos relevantes da CNV
Não há manual disponível para praticar a CNV, mas há pontos relevantes para ajudar a guiar a implementação desta abordagem. Veja abaixo:
- Observar as ações e falas da pessoa com quem se está conversando. Prestar atenção em fatos, não em sensações causadas pela postura do outro.
- Uma vez que há entendimento sobre os fatos, perceber quais sentimentos surgem em relação a eles. Raiva? Frustração? Neste momento é importante pensar em sentimentos de fato, não julgamentos do comportamento alheio. Por exemplo: “Fiquei triste com o que você falou”, ao invés de “Você nunca entende o que sinto”.
- Quando conseguir identificar os sentimentos, é hora de entender quais necessidades estão relacionadas a eles. Mais uma vez, fale sobre você — não sobre a atitude do outro.
- Agora que os fatos foram observados, há uma conclusão sobre sentimentos e qual a necessidade naquele momento, é hora de fazer o pedido. Por exemplo, se você está tentando trabalhar e estão fazendo muito barulho pela casa, em vez de dizer “vocês nunca fazem silêncio!”, o pedido pode ser: “Quando estou tentando trabalhar e vocês fazem muito barulho, me sinto desrespeitada. Nosso acordo de manter silêncio durante estas horas é muito importante para mim.”
Sim, isso demanda vulnerabilidade e coragem — mas é aqui que moram as melhores experiências, o amor, e o crescimento.
Ou seja, da próxima vez que você se encontrar em uma situação frustrante, tente seguir os passos da CNV e perceba como sua conexão vai ser mais forte e clara com a outra pessoa.