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Em um mundo barulhento, no qual ecoam incertezas e conflitos, propor-se a praticar a escuta ativa é o caminho para ouvir os chamados de Deus, dos nossos irmãos e de nós mesmos

Você já parou pra pensar no significado da palavra “escutar”? Muito mais do que um ato mecânico de identificar um som, escutar vem do latim “ausculto”, que quer dizer escutar com atenção.

Parece simples, mas nem sempre é fácil dedicar atenção ao que fazemos. Quantas vezes nos afastamos  dos nossos irmãos e de nós mesmos fingindo que estamos escutando, quando na verdade estamos deixando nosso espírito viajar pra bem longe?

A verdade é que em tempos de muito barulho, incertezas e conflitos, como os nossos, é difícil mesmo pararmos pra pensar no sentido das coisas. Mas exatamente nessa busca por respostas para as questões que nos afligem é que repousa a importância de nos deixarmos habitar pela escuta com atenção, ou escuta ativa. 

Silêncio: onde ficam as respostas para a escuta ativa

De um coração em paz, que se dá ao direito de ficar em silêncio, brotam o amor e a esperança. Do ato de ouvir um irmão em dificuldades, surgem a solidariedade, a empatia, o poder de mudança. Da boa vontade em se doar a uma boa conversa com Deus, expondo sua gratidão, suas aflições, seus medos para quem mais lhe conhece, nasce a fé, a força para caminhar rumo a dias melhores.

Escutar o próximo é, sobretudo, uma condição essencial para a construção de relacionamentos mais saudáveis. Na escuta ativa brota naturalmente a abertura para se colocar no lugar do outro e, por consequência, de ajudar com tudo o que está ao nosso alcance.

Uma metáfora para ajudar a escutar o próximo

Se fôssemos descrever a arte da escuta, poderíamos utilizar as diferenças entre as ideias de escuta de hospital e escuta de hospitalidade. 

Escuta hospitalar

Em primeiro lugar, a escuta hospitalar segue a regra de produzir os maiores resultados com o mínimo de intervenção. Quem sistematizou isso foi um médico filósofo grego chamado Hipócrates, que se acredita ter vivido no século V a.C. Esse raciocínio consta inclusive em um famoso juramento, que até hoje é feito durante a formatura de novos médicos mundo afora.

É uma visão, digamos, mais utilitária da escuta: eu ouço algo para reagir de uma forma que reflete uma ação física com o maior resultado e a menor intervenção possível.

Escuta hospitaleira 

Por outro lado, na escuta hospitaleira, o vazio é o espaço interno onde o silêncio age. É o tipo de escuta de coração aberto, como o melhor anfitrião faz aos seus hóspedes. É o espaço no qual fazemos tudo o que está ao nosso alcance, no qual é oferecido, acima de tudo, um lugar para que o outro habite.

Ou seja, quando você ouve o outro com a escuta hospitaleira, você está transparecendo, para quem fala: eu tenho um lugar para você em mim. Trata-se de uma visão repleta de amor, atenção e cuidado além do plano físico do outro. É um modo de escuta com ternura, amor, dedicação e compromisso com o aconchego de quem nos fala. E essa é justamente a escuta ativa! 

Escuta ativa: uma tradição judaico cristã a ser perpetuada

A capacidade de escutar de forma hospitaleira (escuta ativa), dentro da tradição judaico cristã, é o elemento primordial para a existência da própria fé. Quanto mais sensíveis somos no desenvolvimento da escuta de Deus, mais preparados estamos para receber suas confidências e revelações para nossas vidas. É na escuta que identificamos, sobretudo, os chamados a seguirmos nossos propósitos e descobrirmos nossas vocações, por exemplo.

Esse hábito deve ser estendido às pessoas que estão à nossa volta. Dedicar nossa energia a quem está perto, por meio da escuta ativa, é uma verdadeira prova de amor e empatia. 

Vamos praticar a escuta ativa? 

Então, que tal pensarmos em maneiras de praticarmos a escuta hospitaleira? Vamos nos fazer perguntas, nos nossos próprios silêncios. Podemos começar, seja na escuta do chamado de Deus, de um irmão ou de si mesmo, com: “O que podemos fazer agora para praticar o ato de escutar com atenção e com consciência no presente?” Ou ainda: “Qual espaço reservo em mim para o outro?”.