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Aprenda com o Papa Francisco e a filosofia sul-africana Ubuntu que o que cada um faz, ou que deixa de fazer, tem consequências na vida dos demais
“No diálogo com Deus não há espaço para o individualismo”. Esta frase, do Papa Francisco, reflete um princípio básico para nosso processo de caminhada em direção à prática dos ensinamentos de Jesus.
O santo padre nos convida, a partir desse pensamento, a deixarmos de ostentar os nossos próprios problemas, superando a visão de que somos os únicos que sofremos no mundo.
“Não existe oração elevada a Deus, que não seja a prece de uma comunidade de irmãos e irmãs”, ensina-nos o papa.
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Essa reflexão então proposta por Francisco nos permite trazer para o debate uma filosofia milenar, surgida na África do Sul, cujo nome é “Ubuntu”.
O que é ubuntu?
A palavra surgiu no idioma Zulu e pode ser traduzida como “Eu sou porque nós somos”. Uma ideia que leva à percepção de que nos humanizamos por meio dos demais. O termo transmite um significado muito importante, de que todos os seres humanos formam uma parte inseparável do tecido que forma a humanidade. Ou seja, o que cada um faz, ou que deixa de fazer, tem consequências na vida dos demais.
Que tal aprender sobre Ubuntu com o sul-africano mais famoso?
Quem sabia melhor do que ninguém o que significa a palavra “Ubuntu” era o líder sul-africano Nelson Mandela. Nascido em 1918, tornou-se advogado e foi preso por liderar protestos antirracismo em seu país.
Após 27 anos na prisão, participou ativamente da vida política e se tornou presidente da África do Sul entre 1994 e 1999. Em uma entrevista que deu sobre o que era, para ele, Ubuntu, o líder antirracismo contou uma pequena história.
Mandela relembrou que em tempos antigos, um viajante que estivesse atravessando o país podia parar em qualquer aldeia. Ao chegar onde quer que fosse, o viajante não tinha sequer de pedir por comida e água. Em seguida os aldeões acolhiam o forasteiro imediatamente e davam-lhe tudo aquilo que precisasse.
Em síntese, “Este acolhimento é uma característica do Ubuntu, mas há vários outros aspectos”, disse Mandela nessa entrevista.
O ex-presidente reforçou que o Ubuntu não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. “A questão é: o meu progresso pessoal está a serviço do progresso da minha comunidade?
Papa Francisco: chamado para caminharmos juntos
Nesse sentido, o Papa Francisco, durante uma audiência geral em fevereiro de 2019, no Vaticano, fez um chamado que vai justamente nessa direção. Ele nos pede que pratiquemos o senso de comunidade. O santo padre propôs o questionamento sobre a ausência da palavra “eu” no Pai Nosso, a Oração que Jesus nos ensinou.
“Nunca se diz ‘eu’”, refletiu Francisco. “Jesus ensina a rezar, tendo nos lábios antes de tudo o “Vós”, porque a oração cristã é diálogo: “santificado seja o vosso nome, venha o vosso reino, seja feita a vossa vontade” (…). E depois passa para o ‘nós’. Toda a segunda parte do ‘Pai-Nosso’ é declinada na primeira pessoa do plural: “dai-nos o nosso pão de cada dia, perdoai-nos as nossas ofensas, não nos deixeis cair em tentação, livrai-nos do mal”.
É urgente se sensibilizar com os outros
Com isso, portanto, o Papa Francisco alerta sobre a necessidade incluir nas nossas preces os amigos, familiares, levar a Deus as muitas faces de quem compõe a comunidade. É preciso olhar ao redor, para as pessoas que sofrem.
“É uma bonita oração”, diz o papa antes de ensinar a prece:
“Senhor, enternecei o meu coração, a fim de que eu possa entender e responsabilizar-me por todos os problemas, por todas as dores dos outros”.
Tempo de reflexão
Com essas inspirações, por fim, Francisco nos leva a pensar que a oração não deve ser encarada como um remédio que se toma para deixar de sentir um sintoma. Ela é um processo profundo de encontro com Deus e de descoberta do nosso papel na grande teia da vida.
Hoje, quando for fazer sua oração, medite sobre isso. Pergunte-se: estou incluindo as preces das pessoas que estão ao meu redor nos meus momentos com Deus?