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A fraternidade é a marca do espírito marista e a essência da vida cristã. E foi na mesa de La Valla, em 1817, que Marcelino Champagnat nos ensinou sobre comunhão, encontros e sobre a partilha da vida. Quando Marcelino Champagnat congregou seus irmãos ao redor da mesa de La Valla, ele mostrava a importância desses momentos de união em nosso cotidiano.
Na pequena casa na cidade de La Valla, na França, Marcelino acolheu e convidou seus primeiros discípulos a viver como uma família, como irmãos. A mesa de La Valla ganhou, desde então, o simbolismo da fraternidade. Era ali que eles se sentavam para partilhar e conversar sobre o que queriam para o futuro da comunidade de fé que surgia.
Dessa forma, Marcelino nos guiou, já em suas primeiras ações, por um ensinamento que ele queria que fizesse parte das nossas vidas: o valor do diálogo fraterno. Assim, essa tem sido uma mensagem disseminada ao longo dos anos pelos maristas.
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Mesa de La Valla e o diálogo fraterno
O diálogo fraterno é mais do que uma conversa, ele envolve escutar com atenção e falar com clareza. Além disso, também é preciso ouvir sem julgamentos e com mais compaixão. É por meio do diálogo fraterno que praticamos o fortalecimento do amor em Deus.
Quando surgir um problema, uma discordância, uma indefinição ou mesmo quando sentir vontade de conversar, o faça. Fale o que sente que precisa falar e escute o outro com atenção. Não deixe que a rotina corrida, as tarefas acumuladas ou as responsabilidades do dia a dia deixem esse momento para depois. Priorize essas oportunidades para realmente viver uma vida em fraternidade
Dicas para praticar o diálogo fraterno
Falar com clareza: quantas vezes em uma conversa com sua família ou com seus amigos, você já teve receio de falar o que pensa? Isso porque muitas vezes tememos magoar quem amamos. Ou temos receio por termos uma opinião diferente. Em uma conversa fraterna, você deve estar aberto a falar e a ouvir, com respeito e amor.
Nas anotações deixadas pelo Irmão Lourenço, um dos primeiros discípulos de Marcelino, ele contou sobre a postura do padre: “Tinha um caráter alegre e calmo, porém firme. Sabia alternar na conversa palavras divertidas para amenizar a convivência. Não se sentia nunca incomodado entre os Irmãos. Fazíamos as perguntas mais embaraçosas, mas jamais o vimos em dificuldade para respondê-las, e de maneira tão precisa que deixava todos os Irmãos satisfeitos…”
Durante a homilia, em 2014, o Papa Francisco convidou os participantes a “falar claro, escutar com humildade e acolher com coração aberto o que dizem os irmãos”… “que ninguém diga: isso não se pode dizer, vão pensar de mim isto ou aquilo. É preciso dizer tudo que se sente com ousadia”.
Ou seja, não é preciso ter medo, mas sim clareza. Sabendo que, mesmo com opiniões diferentes, é o mesmo amor que nos une. A conversa verdadeira tem o poder de causar transformações, em nós e no outro. Uma pergunta, um conselho, uma observação, tudo isso tem o poder de tocar um coração e ser como a semente de mostarda, causando uma transformação.
Escuta: quando escutamos verdadeiramente o que nossos irmãos nos dizem, estamos enviando a mensagem de que o outro nos interessa e de que verdadeiramente queremos ouvi-lo. Por isso, busque ouvir com atenção, tentando não interromper seu interlocutor. Deixe que ele termine seu raciocínio para que você possa, então, falar.
Além disso, o mais importante em uma escuta é ouvir sem julgar. Dessa forma, você dá espaço para o acolhimento e, muitas vezes, para praticar o perdão.
“Não julguem uns aos outros para vocês não serem julgados por Deus.” (Mateus 7:1)
O Papa Francisco, em sua terceira encíclica, Fratelli Tutti, resumiu suas preocupações sobre o tema e nos deu o caminho:
“Sentar-se a escutar o outro, característico dum encontro humano, é um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro, presta-lhe atenção, dá-lhe lugar no próprio círculo. Mas o mundo de hoje, na sua maioria, é um mundo surdo (…). Às vezes a velocidade do mundo moderno, o frenesi impede-nos de escutar bem o que outro diz. Quando está a meio do seu diálogo, já o interrompemos e queremos replicar quando ele ainda não acabou de falar. Não devemos perder a capacidade de escuta.”
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