Enquanto enfrentamos esse período de distanciamento social devido ao coronavírus, o Ir. Benê Oliveira, Superior Provincial da PMBCS, nos convida a refletir sobre a esperança. Uma esperança não apenas no âmbito individual. Sobretudo, uma esperança que faça nos reconhecer na coletividade, como família global.

Confira a mensagem:

Que aprendizados podemos tirar da pandemia do coronavírus?

O grande aprendizado, creio, podemos tirar desse tempo de convivência com a pandemia do coronavírus, seja a experiência de substituir o medo pela esperança. Nesse sentido, aprecio muito as reflexões do Cardeal Dom José Tolentino Mendonça, Prefeito do Arquivo Apostólico e da Biblioteca do Vaticano que acaba de escrever o livro “O poder da esperança – as mãos que sustentam a alma do mundo”. Na obra, ele aborda que precisamos de mãos, de mãos religiosas e não religiosas que sustentem a alma do mundo, isto é, que demonstrem que a redescoberta da esperança é a primeira oração global do século XXI, capaz de salvar a humanidade. 

Daí que o recolhimento em quarentena se apresenta como oportunidade, como dom, como um tempo novo para a humanidade superar o medo, se esperançar e se reencontrar enquanto comunidade, casa comum, família global. É tempo, como afirmou o nosso XXII Capítulo Geral, para “abandonar a cultura dos egos e promover os ecos – ecologia, ecossistema, economia solidária, que reduzam o escândalo da indiferença e das desigualdades”. 

Também essa postura e atitudes foram vividas em alto grau por São Marcelino Champagnat quando animou os Irmãos nos momentos difíceis da fundação do nosso Instituto, sobretudo na Revolução de 1830, quando soldados ameaçavam l’Hermitage e ele, colocando-se à frente da comunidade, repetia aos Irmãos: “Não tenham medo”, como que fazendo eco de Jesus no Evangelho (“No mundo terão aflições, mas tenham coragem; eu venci o mundo”, cf. Jo 16, 33).

Por isso, esses também são tempos de restabelecer a intimidade e a confiança em Deus, de nos abandonar à Providência com uma atitude contemplativa que não é alienação nem desapego da realidade, mas a esperança que dá sentido ao nosso humano existir. “Quanto mais difíceis os tempos, situações e circunstâncias, mais deve ser forte a esperança”, afirmou o nosso profeta Dom Pedro Casaldáliga. É necessária muita esperança e “se adquire e se chega à esperança por meio da verdade, pagando o preço de repetidos esforços e de uma longa paciência. Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora”, disse Georges Bernanos, escritor e jornalista católico francês. Confiando em Deus, no silêncio que a solidão nos proporciona, agora, deve crescer em nós a viva esperança n’Aquele que nos carrega na palma da mão.

Enfim, estamos todos acompanhando nesses dias as muitas histórias de amor, de coragem e de esperança, notadamente o testemunho dos médicos e demais profissionais da saúde e dos samaritanos anônimos das fábricas, do cultivo e da produção de alimentos, dos medicamentos, da segurança e de tantos outros bens indispensáveis daqueles que no esquecimento de si mesmos, velam e cuidam de todos nós. “Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim tudo dá certo. […] Mas, se não tem Deus, então a gente não tem licença nenhuma! Porque existe a dor“, cf.  João Guimarães Rosa, Grande Sertão – Veredas, p. 76.

Queridos Irmãos, Maristas de Champagnat, vamos manter as mentes, os corações e os olhos abertos aos aprendizados desses dias sombrios de pandemia para tornar-nos pessoas melhores… “e até que de novo nos encontremos, que Deus os(as) guarde na palma da Sua mão”, cf. tradicional bênção irlandesa / antiga oração celta.

 

Ir. Benê Oliveira, fms
Superior Provincial da PMBCS