Mais de 50 mil cartas escritas no período de dois mandatos como Superior Geral. O dado surpreende pela magnitude numérica por si só. Mas traz consigo um significado que vai muito além disso. Representa o profundo respeito que o Ir. Basílio Rueda dedicava a cada pessoa que lhe procurava – já que nenhuma correspondência recebida ficava sem resposta – e seu jeito de se fazer muito mais presente do que as distâncias geográficas permitiriam. 

Ir. Basílio RuedaPara lhe auxiliar nesta tarefa volumosa, Ir. Basílio contava com o auxílio de quatro ou cinco secretários. Porém, com exceção dos assuntos estritamente administrativos, ele fazia questão de escrever ou registrar em um gravador de voz as palavras que vinham do coração, com seus mais sinceros sentimentos.

Tinha o hábito de escrever em qualquer lugar, aproveitando o tempo nas estações e nos trens, nos aeroportos e nos aviões, e principalmente nas longas noites que se prolongavam até as primeiras horas da manhã.

Ensinamentos compartilhados 

As correspondências enviadas pelo Ir. Basílio denotam traços importantes de sua personalidade. Entre elas estão: a facilidade para criar laços de empatia e amizade; a vontade de manter uma relação próxima com os Irmãos; a busca pelos pontos positivos e aprendizados decorrentes das situações relatadas (mesmo em meio às dificuldades); o interesse genuíno pelo contexto de vida e das obras desenvolvidas pelos Irmãos em missão; a valorização das diferentes opiniões e do diálogo; e até toques sutis de humor.

Ir. Basílio Rueda e Ir. Henri VergèsNo documento “Convergências – A correspondência entre Ir. Basílio Rueda e Irmão Henri Vergès, de 1971 a 1985”, coletânea de textos feita pelo Irmão Alain Delorme e publicada pelo Instituto Marista, fica evidente a importância conferida pelo Superior Geral a esse meio de comunicação.

“As cartas eram para ele instrumento de apostolado, forma de se manter próximo e de se encontrar com os Irmãos e com as pessoas. Elas constituíam outro modo de ser Superior Geral. Seu trabalho a serviço da autoridade estava sempre imbuído de amizade, iluminado por um sorriso. Ele sabia que as cartas recheadas com o amor penetravam de cheio no seu modo de ser totalmente entregue ao Cristo. Amar as pessoas, animá-las, iluminá-las, tornar-se amigo de cada um, essa foi sua caminhada para a santidade (Convergências, p. 9).

Basílio Rueda: um homem de palavra, ação e afeto

Em resposta a uma das cartas enviadas pelo Ir. Henri Vergès, que tratava da visita realizada pelo Superior Geral à Argélia, Ir. Basilio deixa transparecer seu senso de responsabilidade: “Você deve ter em mãos, agora, a mensagem que lhe havia prometido. Cuido para cumprir sempre minha palavra diante do que prometo: é normal, não acha?”. 

Ir. Basílio Rueda em Monumento MaristaTambém pode-se perceber a retomada das lembranças dos encontros realizados e o esforço para estreitar os laços vividos pessoalmente. As últimas linhas de suas cartas, antes da assinatura, reforçavam a linguagem afetuosa e a disponibilidade do Superior Geral para com os Irmãos, incluindo expressões como “Seu Irmão e amigo”, “Seu amigo, que o traz em seu coração”, entre outras.

O interesse do Ir. Basílio pela realidade que o Ir. Henri estava vivenciando, como exemplo de dedicação à missão Marista na Argélia, também era muito presente nas cartas trocadas entre os dois. “Gostaria que, sempre que dispuser de algum tempo, me mandasse notícias, porque me apego muito a seu testemunho argelino que me proporciona grande satisfação”, escreveu o então Superior Geral, de Roma, no dia 14 de janeiro de 1977.

Em 27 de novembro de 1979, Henri escreve de Sour-El-Ghozlane para Ir. Basílio: “Minha vida permanece na situação que você conhece. Com você, mantenho minha confiança no futuro, em grande paz nas mãos do Senhor e de Nossa Senhora”. Um exemplo do conforto e da esperança contidos nessas mensagens.

Em um trecho da carta de Natal enviada ao Ir. Henri em 1979, Ir. Basilio fala sobre a multiplicação do amor. “Quando penso em minha primeira juventude, jamais poderia imaginar esta experiência, entretanto agora evidente em minha vida que o coração possa amar tantas pessoas como se cada uma fosse única, como se eu tivesse para com cada uma a amizade profunda e permanente que se pode ter por um amigo íntimo. Finalmente, o que constato é que, em vez de reduzir ou de dividir a força do amor, o número de pessoas a purifica e a torna mais generosa e mais estável”.

Visão da vida religiosa pós-Vaticano II

Ir. Basílio Rueda organizando documentosEntre outras qualidades, Ir. Basílio também é reconhecido por apresentar uma clara visão da vida religiosa pós-Vaticano II. Por isso, seus textos são lidos e estudados por muitas congregações, com versões traduzidas para vários idiomas.

Em suas Circulares, mostrava-se como um mestre espiritual, fiel ao Evangelho e atento ao tempo em que vivia. Deixava transparecer seu entusiasmo pelas experiências de vida e sua intimidade com Deus. Mostrava como amar a Cristo é possível e apaixonante.