Texto e fotos: Diego Henrique da Silva Alves – Identidade Institucional da PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

No ano em que os Irmãos Maristas celebram os 25 anos de canonização de São Marcelino Champagnat, o Colégio Marista Paranaense teve a graça de acolher em suas dependências a nova edição do Dia Nacional da Juventude 2024, evento realizado pela Setor de Juventude da Arquidiocese de Curitiba (PR). A programação aconteceu no sábado (28/09/2024), ocupando quase todo o complexo esportivo do Colégio, com uma expressiva representação de novas comunidades de vida, grupos de jovens, congregações religiosas, pastorais e movimentos juvenis da Igreja Católica local, iniciando às 9h e se estendendo até 22h. “Eu nunca havia visto um DNJ tão grandioso e festivo como este”, comentou o arcebispo de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo durante o início da celebração eucarística do evento.

A temática deste ano demonstra uma forte sintonia com o Plano de Pastoral Juvenil da Igreja no Brasil (lançado em 2022), com um dos temas tratados na mais recente edição da Assembleia Geral da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (realizada em Abril de 2024) e com o próprio Sínodo sobre os Jovens (Outubro de 2018). Ao abordar o tema “Testemunhas da Esperança”, o DNJ convida os(as) jovens a fazerem sua parte num processo de evangelização em que cada um e cada uma é corresponsável no projeto cristão da salvação e no convite a outros e outras jovens para que conheçam a mensagem de Cristo. Tal movimento também coloca na Igreja, por sua vez, o papel de ir ao encontro das juventudes. “No momento em que escolheu ocupar-se dos jovens neste Sínodo, a Igreja no seu conjunto fez uma opção muito concreta: considera esta missão uma prioridade pastoral decisiva, na qual deve investir tempo, energias e recursos”, especifica o parágrafo 119 do Sínodo sobre os Jovens.

Irmão Marista Miguel Fernandes

Para o Irmão Marista de Champagnat, Miguel Fernandes, “esse tema nos convida a sermos sinais vivos de fé e coragem em um mundo que, tantas vezes, parece perdido no medo, na violência, na violação dos direitos humanos mais fundamentais e na desesperança”.

Mais tolerantes e plurais, juventudes praticam a coexistência sem renunciar suas identidades

Sala de meditação, área sombreada por um bosque privativo para atendimento a confissões e orientações espirituais, barracas com comidas e bebidas, pista de atletismo com shows de pagode e batalhas de rima, estandes de congregações para um diálogo direto com freiras, frades e integrantes de novas comunidades de vida, Arena Marista com quadra de vôlei de areia e campo de futebol, espaço “Faça Sua Arte” com microfone aberto e instrumentos musicais à disposição… Não faltaram lugares para acolher as mais diversas expressões juvenis que puderam escolher o roteiro de atividades que esteve à disposição durante todo o evento.

Dia Nacional da Juventude

O assessor eclesiástico do Setor Juventude da Arquidiocese de Curitiba, padre Clayton Munhoz, explica os fatores que fizeram desta edição tão bem-sucedida. “A variedade, a diversidade, para mim, não é um problema. A chave, o segredo, é muito simples: eu trouxe todo mundo. Todo mundo é convidado! Todo mundo é protagonista!”, ponderou. Segundo ele, o DNJ é um reflexo da unidade em que vivem os(as) católicos(as). “Ninguém precisa anular a sua identidade para gerar comunhão. Então nós temos aí as novas comunidades carismáticas, têm as juventudes mais progressistas, têm os grupos paroquiais, todas as pessoas. Isso é a igreja. Então, todas as vezes que se forma comunhão, o reino de Deus acontece. E aí cresce e aumenta, se desenvolve e transborda”, avalia.

O jovem Lucas Orso faz parte do Movimento Jornada Jovem de Curitiba que atua na Paróquia Nossa Senhora do Sagrado Coração. Juntos de vários amigos, eles comercializaram lanches em uma das barracas da Praça de Alimentação do DNJ, com o objetivo de levantar recursos para a realização de um grande retiro que pretendem realizar. De toca na cabeça e avental personalizado, ele expressou que a cultura do encontro faz todo o ritmo intenso de trabalho se tornar mais leve e adquirir um novo sentido, que está alicerçado na missão de evangelizar na atividade que irão desenvolver no futuro. “O mais legal é a união com os amigos. A gente tá sempre junto, se ajudando e não é uma coisa de hoje: é uma coisa que vem há tempos, com a gente se preparando. Não é uma simples amizade, é uma coisa de irmão! Trabalhar aqui mostrou o quão unido a gente é!”, explicou.

A jovem Taíza Vitória Cequinel, integrante da equipe de liturgia da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, da cidade de Campo Largo (PR), na região metropolitana de Curitiba defendeu que a companhia de seus pares foi a coisa que achou mais marcante nesta edição do DNJ. “Eu acho que faz muita falta, no dia-a-dia… A gente não vê tanto jovem católico assim, na prática. Aqui, juntando todo mundo, parece que a gente não tá sozinho mesmo!

Juventudes: tempo passado, tempo presente e as novas formas de evangelização

A reportagem perguntou ao arcebispo de Curitiba, Dom Peruzzo, quais as semelhanças e diferenças que destaca entre as juventudes de seu tempo e as juventudes contemporâneas, em especial, as que observou circulando pelo DNJ. O bispo nasceu em Cascavel, no oeste do Paraná, em Abril de 1960. Em sua juventude, vivenciada, sobretudo, nos anos 1980, o mundo vivenciava momentos como o atentado a São João Paulo II (1981); a estreia da MTV, no Estados Unidos (1981); a consagração de uma infinidade de bandas de rock como A-ha, U2, The Police, AC/DC, Guns N’ Roses, Iron Maden e Scorpions; o Rio de Janeiro recebia a primeira edição do Rock in Rio (1985); Michael Jackson se consolidava como o maior astro do pop; a primeira edição da Jornada Mundial da Juventude acontecia em Roma (1985); a catástrofe nuclear atingia a usina de Chernobil (1986); as Campanhas da Fraternidade no Brasil passavam a se intensificar nas temáticas intimamente ligadas às realidades brasileiras como o combate à fome (1985), o direito à terra (1986), a proteção à infância (1987), o enfrentamento ao preconceito racial (1988) e a importância da comunicação social (1989).

Dia Nacional da Juventude

Dom Peruzzo contextualizou que “Outrora a alegria era a mesma, mas agora é mais ruidosa, faz mais barulho, mas também a criatividade é bem maior, também a espontaneidade é maior”. O arcebispo também reconheceu que há uma convivência mais fraterna e valorização de expressões juvenis mais autênticas e destemidas das personalidades individuais. “Antigamente, tudo era muito mais tímido. Agora a espontaneidade deixa pronunciar sentimentos, amores, dores, temores. Antigamente nada se sabia, parecia que cada pessoa era um universo cheio de ocultações e de intimidações. Agora é mais espontâneo, muito mais, porém também são maiores, na atualidade, os riscos a que um jovem está exposto”.

O Irmão Marista José Augusto Wendler (Gutto), que também é coordenador da animação vocacional da Regional Paraná Leste na PMBCS – Província Marista Brasil Centro-Sul – comentou sobre o quanto a realização do DNJ o faz lembrar o impacto que a sua participação em grupos de jovens refletiu na sua opção pela vida religiosa. “Recordar o DNJ é recordar a minha vocação. Eu me fiz irmão, decidi consagrar a minha vida, olhando essa juventude que carece e, cada vez mais, quer se aproximar do próprio Cristo, a partir de suas expressões. Não temos uma receita única para aproximar a juventude de Jesus Cristo. Eu, de maneira muito especial, descubro a minha vocação a partir de todo tempo que me dediquei à Pastoral Juventude”, afirma o Irmão.

Palco São Marcelino Champagnat, no Espaço das Juventudes, se torna o coração do evento

Imagem de São Marcelino Champagnat

O palco principal reuniu os shows dos ministérios M3 e Missão & Canção, as pregações do Rafael Medeiros e do Pe. Clayton Munhoz, o Desperta Vocacional (momento de tira-dúvidas com irmãos, padres, leigos consagrados e membros de novas comunidades), os testemunhos de vida de convidados(as) especiais, a adoração ao Santíssimo Sacramento, a Santa Missa e o Show de encerramento com a Fraternidade São João Paulo II. Por ter recebido essa intensa programação, o palco dialoga diretamente com o carisma de fé do patrono, como explicou o Irmão Marista Miguel Fernandes durante o comentário inicial da Missa: “Marcelino Champagnat, fundador dos Irmãos Maristas, dedicou sua vida à educação e evangelização de crianças e jovens, ensinando-nos a importância de plantar a fé nos corações de cada um e tornar Jesus conhecido e amado”.

O Irmão Marista José Augusto Wendler (Gutto) não escondeu a alegria em ter o fundador da sua congregação inspirando as juventudes do evento. “Pra nós, Maristas de Champagnat, é uma alegria muito grande ter como um dos patronos do Dia Nacional da Juventude, aqui da Arquidiocese, um santo que inspira também a nossa consagração… Um santo que desafia o seu tempo, evangeliza, dedica esforços, o seu amor e, não por acaso, se torna um grande apóstolo da juventude. Nós, como irmãos maristas temos essa missão: confiar na juventude!”, defende o Irmão.

Ir. Gutto no Dia Nacional da Juventude

Patronos escolhidos para o DNJ 2024 são exemplos mais acessíveis de vivência da santidade

Um padre apaixonado pela educação, um médico surfista que se lançou à vida religiosa, um adolescente conectado ao mundo digital e uma jovem que abdicou a se tratar do câncer para poder dar à luz ao seu bebê. O time de patronos e patrona escolhidos para esta edição do DNJ não deixa dúvidas sobre a mensagem que a edição do evento desejou transmitir: ser santo hoje, continua sendo possível!

São Marcelino Champagnat foi o padroeiro do espaço Juventude, localizado na quadra poliesportiva, onde estava o palco principal do DNJ. O padre francês fez seu discernimento pela vida sacerdotal a partir dos 14 anos, construiu toda a sua jornada em favor da educação e da evangelização de crianças e jovens. Hoje a obra que fundou, há mais de 200 anos, já supera o número de 600 escolas em 80 países, com universidades, colégios privados e inúmeras unidades sociais que provisionam estudo gratuito, com a qualidade Marista.

Carlo Acuttis foi o padroeiro do espaço Santidade, localizado na tenda montada para bate-papos com bispos, oração, adoração eucarística, meditação, exercícios inacianos e interseção pelo evento. Trata-se de adolescente italiano que nasceu em Londres e faleceu aos 15 anos, de leucemia; atualmente, está sepultado em Assis, na Itália. Seu processo de canonização foi aberto em 2013 e ele foi proclamado venerável em 2018. É considerado padroeiro da juventude, da internet e dos estudantes. Ficou conhecido por documentar milagres eucarísticos e aparições de Maria aprovadas pela Igreja ao redor do mundo e catalogá-los em um site que ele mesmo criou, pouco tempo antes de sua morte.

Guido Shaffer foi o padroeiro do espaço Radicalidade. Formou-se em medicina pela UFRJ, ofertando assistência médica gratuita à população do Vidigal, no Rio de Janeiro. Em 2008, entrou no seminário atendendo à sua vocação para o sacerdócio, sem deixar de praticar o surf nas praias cariocas. Morreu aos 34 anos praticando a modalidade esportiva que mais amava, no Recreio dos Bandeirantes. Hoje, é considerado venerável pela Igreja.

Chiara Corbella foi padroeira do espaço da Esperança, um amplo bosque nas proximidades da Residência dos Irmãos Maristas, voltado ao atendimento de confissões com os padres participantes; com freiras, freis e seminaristas para práticas de escuta, direção espiritual e aconselhamento. A jovem italiana que inspirou o local é símbolo da escolha consciente e da doação de si. Conheceu seu esposo em uma peregrinação religiosa, casou-se na Igreja, em Assis e teve dois filhos que partiram deste mundo com má formação, logo após o parto. Na terceira gestação, teve o diagnóstico de câncer na língua e, contrariando os médicos que recomendaram a prática do aborto, optou dar à luz ao bebê, que se desenvolveu sem complicações, mesmo que isso tenha custado o adiamento de seu tratamento e a sua morte, ainda muito jovem, aos 28 anos.