A história do Instituto Marista está repleta de homens que foram testemunhas do amor de Cristo e viveram no cotidiano de suas vidas a santidade. Um desses homens foi o Irmão Lycarion (1870-1909), primeiro mártir da Espanha. Sua vida e obra foi tão significativa para a congregação, que está em curso o processo de sua canonização. Confira, abaixo, o material de pesquisa organizado por Angelo Ricordi, especialista da Diretoria de Identidade, Missão e Vocação da PMBCS.
Dados biográficos do Ir. Lycarion
François Benjamin May nasceu na Suíça, na aldeia de Bagnes, cantão de Valais, em 21 de julho de 1870. Seus pais, Mauricio Eugenio e María Virgínia, formam uma família de pequenos proprietários agrícolas, que vivem como bons cristãos. Nesse ambiente rural vive, se forma e trabalho Benjamin até os 18 anos. Ao ingressar no Instituto Marista recebe o nome de Lycarion. Isso se dá no dia 15 de agosto de 1888. Depois de um longo período de estudos religiosos e profanos, ele amadurece a ideia de dedicar toda a sua força para a educação cristã dos jovens e crianças pobres.
Terminada esta primeira etapa de sua formação com sua consagração a Deus no Instituto dos Irmãos Maristas, o Irmão Lycarion é destinado à Espanha. Em Mataró (Barcelona) continua a sua formação e se aperfeiçoa na língua espanhola. Ele também harmoniza seus estudos com a prática do ensino em Gerona e Torelló (Barcelona).
Em Canet de Mar (Barcelona) desenvolve, durante cinco anos, um grande trabalho como educador e diretor. Dalí, o Irmão Lycarion é enviado pelos superiores a Arceniega (Álava), onde dirige a escola que os Irmãos têm nessa cidade. Suas qualidades pessoais e os extraordinários frutos que vai colhendo como educador e diretor fazem com que os superiores pensem nele em 1906 para dirigir a escola que o Patronato Obrero de San José tem no bairro Pueblo Nuevo, em Barcelona, e que a oferece aos Irmãos Maristas.
Em 1909, a Espanha vive uma Semana Trágica. É o momento em que acontece a radicalização de questões sociais, econômicas e políticas culminando em violentos protestos que levaram a morte de civis e religiosos numa perseguição encabeçada por socialistas radicais. A convocação de novos reservistas para a guerra impopular no Marrocos foi um dos estopins dessa revolução.
No dia 27 de julho, em Pueblo Nuevo as massas são mobilizadas com o propósito de destruição da residência dos Irmãos e da Escola.
Os Irmãos são convidados a sair de sua residência por um conhecido. Ele os convence a o seguirem sem receio, dizendo que é o momento certo para sair de casa e andar sem perigo, apesar dos frequentes tiroteios que se disparam nas ruas de Pueblo Nuevo. Os Irmãos acreditam em suas palavras e descem, de batina, atrás do falso amigo. Assim que o primeiro da fila – o diretor – chega na rua, grita o amigo fingido para os revolucionários dispersos: Aqui estão eles! enquanto um tiro ressoa. Os irmãos, assustados, procuram refúgio onde e como podem, escondendo-se rapidamente em alguns portais abertos.
O Irmão Lycarion, que vai na frente, é baleado e anda ferido até a parede em frente. Ali cai de joelhos, mortalmente ferido e, exterminado pelos revolucionários, junta as mãos e reza, confia sua alma a Jesus e a Maria e perdoa seus assassinos. Seu cadáver é trasladado para o Hospital Clínico, onde permanece alguns dias. Dali é levado para o cemitério sudoeste (Montjuich) e enterrado em fossa comum, como desconhecido. É o primeiro mártir marista da Espanha e, como tal, humilde mesmo em sua morte e sepultamento.
Perfil educador do Ir. Lycarion
Como professor era admirável, sacrificado, zeloso pelo bem de seus discípulos. Preparava as aulas com muito cuidado, pedagógica e literariamente. Tinha o dom da bela caligrafia. Diariamente, ele escrevia, em vermelho, no caderno de caligrafia de cada aluno a frase ou a letra modelo que cada aluno devia copiar durante a aula seguinte.
Sabia como estimular os alunos com recompensas, elogios ou repreensões paternas dados no seu devido tempo. Ele havia estabelecido na classe, dois grupos chamados “campo romano” e “campo cartaginês”. Todos os meses os grupos eram modificados e os alunos do lado vencedor saíam para passear uma tarde, enquanto os outros permaneciam em sala de aula estudando.
Foi um simples professor de escola e de escola pobre, e entre as crianças que frequentaram sua escola difundiu o amor de Jesus com sua vida de amor e sacrifício.
No caminho da santidade
O início do primeiro processo de canonização do Ir. Lycarion teve início em Barcelona, em 01 de julho de 1966. O processo diocesano foi encerrado em 11 de novembro de 1967. As atas do processo foram levadas à Sagrada Congregação dos Ritos em 1967. Todavia, em 1964 tudo ficou paralisado a pedido do Papa Paulo VI que temia que a memória dos mártires fosse utilizada com fins políticos.
Em 1994, sob o pontificado do Papa João Paulo II e com a Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente tem se a retomada da causa dos mártires espanhóis.
Em 1983 com a mudança do Código de Direito Canônico e publicação da Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister causas como a do Irmão Lycarion precisaram de uma nova investigação diocesana complementária para obter-se o reconhecimento da validez jurídica.
Em 1997 o postulador do Instituto Marista, Ir. Gabriele Andreucci solicitou a reabertura do processo informativo sobre o Ir. Lycarion com o intuito de completar a investigação. Desde então, a causa vem sendo estudada com a contribuição importante dos postuladores, Ir. Bigotto, Ir. Estaun e Ir. Guillermo Villarreal.
Oração pedindo a intercessão do Ir. Lycarion
Ó Deus Todo-Poderoso, que foste glorificado pela confissão sangrenta do Irmão Lycarion, marista, firme testemunho da escola cristã em favor das crianças necessitadas, dá-nos por sua intercessão, aumentar a fé, a esperança e a caridade no exercício constante da nossa vida cristã e concede-nos vê-lo coroado com a auréola dos santos, se é para a tua glória e o bem do povo cristão. Isso te pedimos por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
