O Ir. Seán Sammon, que foi Superior Geral e Doutor Honoris Causa da PUCPR, faleceu na última sexta-feira (9), em Nova Iorque (USA), mas deixa um grande legado para os Maristas de Champagnat.

De acordo com o Ir. Benê, Superior Provincial da PMBCS, em vida ele foi um Irmão amável, especial, dotado de grande inteligência, capacidade de trabalho, sensibilidade e sabedoria para a Província dos Estados Unidos, o Instituto Marista, a Vida Consagrada, a Igreja. “Soube conviver com os seus iguais e com os que não eram tão iguais. Esse querido homem de Deus morreu, mas ficaram suas preciosas lições, exemplos, lembranças e produções”, afirma. O Ir. Benê apreciou muito conhecer e interagir com esse Irmão-americano. “Ele era pragmático como muitos americanos, mas também muito simples, profundo, fraterno, líder”, diz.

O Ir. Afonso Levis ficou surpreso com a páscoa do Ir. Seán e afirma que ele retorna à casa do Pai, mas deixa saudade aos que seguem na vida terrena. “Convivi vários anos com ele, na Casa Generalícia e alhures. E sempre me impressionou sua capacidade de escuta, inclusive “com os olhos” e todo seu semblante; sua serenidade e sua empática presença, por vezes humorística, com detalhes de fraternidade e atenção aos coirmãos”, explica.

O Ir. Afonso guarda com carinho seu testemunho de “maravilhoso companheiro”. “Se por um lado, sentimos sua partida, por outro lado, nos alegramos e agradecemos a Deus pela pessoa que foi, o bem que realizou e, atualmente, sua fraterna intercessão, com a Boa Mãe, São José e São Marcelino junto a Deus. As preces pelo seu descanso eterno”, finaliza.

Produção do Ir. Seán Sammon

Ao longo de sua vida, o Ir. Seán Sammon escreveu muitos livros e artigos e, especialmente os títulos “Uma revolução do coração”; “Maravilhosos companheiros” e “Um coração sem fronteiras”. Todos esses materiais e outros estão disponíveis para download em português no site do Instituto Marista: Ir. Seán Sammon (1947 – 2022) – Champagnat

O Ir. Benê destaca a primeira e primorosa Circular do Ir. Seán. Segundo o Provincial, ele nos animou a viver a “Revolução do Coração” e considera que a leitura ou releitura dessa circular poderia ser um tributo à memória do Ir. Seán. Ele destaca a página 22 da Circular “Uma Revolução do Coração – a espiritualidade de Marcelino e uma identidade contemporânea para os Irmãozinhos de Maria”:

“O que se entende por espiritualidade?”, alguém pode estar perguntando. Vou responder contando a história de um jovem que desejava atingir um alto grau de santidade. Ele se empenhou bastante para conseguir realizar isso, e finalmente foi conversar com seu Mestre.         

“Mestre,” anunciou, “creio que atingi a santidade.”

“O que o faz pensar assim?” perguntou o Mestre.

“Já estou praticando a virtude e a disciplina faz algum tempo e desenvolvi uma grande competência nas duas,” respondeu o rapaz. “Do amanhecer ao pôr do sol não como nem bebo coisa alguma. Durante o dia, realizo todo tipo de trabalho pesado para os outros e nunca espero retribuição. Se a tentação me ataca, rolo na neve ou nos arbustos espinhosos até que desapareça. E à noite, antes de dormir, submeto-me a antigas práticas de flagelações monásticas e açoito minhas costas. Estou decididamente me disciplinando para ser santo”.

O Mestre ficou em silêncio alguns instantes. Em seguida, tomou o rapaz pelo braço e o conduziu até a janela de seu escritório. O Mestre apontou então para um velho cavalo no campo que estava sendo conduzido por seu dono. “Venho observando esse cavalo há algum tempo,” começou o Mestre, “e tenho percebido que não se alimenta nem bebe nada de manhã à noite. Durante o dia inteiro faz todo o trabalho para as pessoas, que nunca lhe retribuem isso. Sempre o vejo se esfregar na neve e nos arbustos, como é costume dos cavalos, e observo que o dono o chicoteia com frequência. No entanto, eu lhe pergunto: esse cavalo por acaso é santo?”

Moral da história? Espiritualidade significa muito mais nossa gratidão generosa pelo dom do amor incondicional de Deus do que qualquer prática piedosa. Ademais, a gratidão desinteressada é o fundamento de toda virtude. É base do amor e da caridade. Marcelino, que entendeu bem esse fato, convida-nos a fazer como ele.

Embora isso seja difícil para muitos Irmãos aceitarem, um dos dons da atualidade é a compreensão cada vez maior de que espiritualidade é muito mais o fogo perene que deve arder em nós do que uma subida vertiginosa na escada das virtudes. Exercícios de piedade, sem paixão, não nos sustentam muito tempo.

Muitos Irmãos alegam ter paixão de sobra. Admitem, também, que essa energia propulsora é o núcleo da experiência humana que alimenta o amor, a criatividade e a esperança que trazemos em nós. Mas frequentemente relutam em admitir que a paixão é inerente à espiritualidade.

Não será essa hesitação fruto da constatação de que a paixão, por se manifestar de maneiras tão diversas, nos assusta? Ademais, às vezes a sentimos mais como inquietação, ou como uma espécie de desejo que confundimos com insatisfação. Tal concepção de paixão nos incomoda e nos frustra bastante. Mas, em última análise, o que é espiritualidade senão o que fazemos com paixão?

De acordo com o Ir. Benê, aqui estão inscritos elementos e desafios para o desenvolvimento da “Espiritualidade do Coração” para a vida, vocação e missão dos Maristas de Champagnat”, explica.

Saiba mais sobre o Ir. Seán Sammon

O Ir. Seán nasceu em 26 de novembro de 1947, em Manhattan, Nova Iorque (USA). Estudou na Saint Agnes High School, depois, no juvenato de Esopus. Fez o noviciado em Tyngsboro, emitiu os primeiros votos em 1967. No Marist College de Poughkeepsie graduou-se em 1970. Lecionou na Saint Agnes High School de Nova York; ao mesmo tempo estudava na Nova Escola de Investigação Social, onde conseguiu sua licença em 1973.

Depois matriculou-se na Universidade de Fordham e conseguiu o doutorado em Psicologia Clínica, em 1982. Em 1978 foi convidado para ser membro do pessoal da Affirmation House de Massachusetts e, em 1982, foi nomeado diretor clínico internacional da referida instituição, posto que ocupou até 1987. Publicou dez livros, um grande número de artigos e fitas magnetofônicas sobre temas de psicologia e a vida religiosa.

Em 1987 foi nomeado Provincial da Província de Poughkeepsie; neste período foi eleito Presidente da Conferência de Superiores Maiores das Congregações Religiosas Masculinas dos Estados Unidos. No XIX Capítulo Geral, em 1993, foi eleito Vigário Geral. Depois, no XX Capítulo Geral, em 2001, foi eleito Superior Geral, cargo que exerceu até 2009.

Fonte: Ir. Seán Sammon (1947 – 2022) – Champagnat