Confira as mensagens do Ir. Ernesto Sánchez Barba, Superior Geral do Instituto Marista, e do Ir. Benê Oliveira, Superior Provincial da PMBCS, sobre o Dia de Champagnat.

Dia de Marcelino Champagnat - Msg Superior GeralCom Marcelino, olhar além…

Queridos Maristas de Champagnat:

Há um ano, refletíamos sobre a confiança, a audácia e a fraternidade de São Marcelino, como alguns dos elementos básicos que o moveram a avançar, não permanecendo paralisado pelo medo ou estando comodamente em sua zona de conforto nos momentos difíceis que lhe tocou viver.

Olhamos o contexto atual

Depois de um ano, continuamos vivendo a realidade de incertezas e de instabilidade no mundo. A pandemia do Covid-19 causou grandes estragos em muitas partes do planeta. Mesmo que pareça estar controlado, em algumas situações, se revelam outros tipos de problemáticas sociais, políticas e econômicas que possivelmente já existiam e que, devido à pandemia, emergiram ou brotaram como realidades emergentes que necessitam de atenção, apoio e solução.

Consideramos uma bênção as ações solidárias que, de uma forma ou de outra, foram surgindo, bem como a doação arriscada de tantas pessoas no serviço da saúde ou a generosidade de quem se aproximou, sem temor, aos mais necessitados e vulneráveis. Alegra-nos saber que em muitas partes do Instituto tornou-se evidente um rosto humano solidário. Também experimentamos a solidariedade interna em nível de nossas comunidades, de nossas obras apostólicas, Províncias e Distritos. Sem dúvida, percebemos mais de perto a família global, apesar da distância e das limitações que hoje existem para viajar e nos encontrar. 

Ao mesmo tempo, fizeram-se evidentes no mundo muitas situações diante das quais predomina uma atitude de autoproteção e de conservação, esquecendo-se facilmente e deixando-se de lado aqueles que mais estão sofrendo. A situação relacional nem sempre foi fácil tanto nas comunidades como nas famílias, gerando-se em certas ocasiões, barreiras ou feridas psicológicas que poderíamos considerar piores do que o próprio vírus. Viveram-se situações de ansiedade e de grande dor frente aos enfermos graves e as perdas de seres queridos. Um bom número de pessoas perdeu seu trabalho e são geradas novas situações de pobreza. Faz-se mais evidente o contraste entre países ou estados com mais possibilidades de recursos, dos que têm mais limitações nos campos da saúde e da economia.

Marcelino Champagnat - Placa comemorativa na Capela de N. Sra. de Fourvière.

Placa comemorativa na Capela de N. Sra. de Fourvière

Marcelino olhou além…

Refletindo sobre essas situações, veio-me à mente Marcelino, homem de visão. Teve um olhar capaz de visualizar um horizonte muito além dos seus próprios confins e limitações. Vários episódios de sua vida mostram-nos claramente que não desanimou diante das dificuldades. Podemos dizer que inclusive as dificuldades fortaleceram sua capacidade de resiliência. Apresento alguns acontecimentos que me vêm à mente com relação a Champagnat e à sua capacidade de ver além:

  • Marcelino intuía a ideia de fundar uma congregação de Irmãos, algo que não era comum então e que seus próprios companheiros sacerdotes não entendiam. Recordemos que, no dia seguinte de sua ordenação sacerdotal, dirigiu-se ao Santuário de Nossa Senhora de Fourvière, junto com o Pe. Colin e os demais companheiros para iniciar a Sociedade de Maria. Um dia depois, 24 de julho de 1816, Marcelino volta ao Santuário para consagrar-se de novo à Santíssima Virgem e confiar-lhe o projeto. 
  • Não foram fáceis seus primeiros passos como coadjutor na Paróquia de La Valla, espraiada em grande parte em vales profundos e montanhas escarpadas. Marcelino não duvidava em caminhar grandes distâncias para atender aos fiéis, sobretudo os enfermos. Os contatos com a gente mostraram-lhe as situações de ignorância e pobreza que viviam. Muitas delas, consequências da pós-revolução. Em particular lhe doía a situação das crianças e jovens de seu entorno. Basta recordar o episódio do jovem Montagne.
  • Sua intuição fundacional crescia e, buscando olhar além, a partir da humildade, confiava constantemente o seu projeto a Deus: “Dizia-lhe seguidamente: “Aqui me tens, Senhor, para fazer tua santa vontade” (Sl 39,9; Hb 10,9). Outras vezes, por medo de ser vítima de alguma ilusão, exclamava: “Meu Deus, se esta ideia não procede de ti e não vai redundar em tua glória e na salvação das almas, afasta-a de mim” (Vida, p. 55). 
  • Não tinham ainda decorridos 5 meses de sua chegada à Paróquia de La Valla, quando deu início ao nosso Instituto, a 2 de janeiro de 1817. Marcelino oferecia orientação e apoio aos primeiros Irmãos. Deu-se conta da importância de passar mais tempo com eles e foi assim que decidiu ir viver com os Irmãos. O pároco tentou dissuadi-lo, porém ele não desanimou. Sabia que tomar a frente e compartilhar sua sorte, fazer-se um a mais entre eles, dar-lhes o exemplo e praticar o que lhes dizia, era o melhor meio de ajudá-los a apreciar melhor sua vocação. (Cf. Vida, p. 71). 
  • Uns anos depois, olhando além, lançou-se a construir uma casa grande para acolher os Irmãos. Fez isto sem ter, neste momento, os meios econômicos suficientes e, junto com os Irmãos e os pedreiros, pôs mãos à obra, alcançando inaugurar, em 1825, a bela casa de N. D. de l’Hermitage, lugar que beneficiou espiritualmente a tantas gerações de maristas.
  • Com relação à missão, viu além, apostando em estilos educativos e métodos de ensino inovadores, apesar de sabermos que não sempre contou com a compreensão dos demais. Seu coração sem fronteiras moveu-o a enviar alguns de seus Irmãos à Oceania, conservando sempre o desejo de ter ido pessoalmente. Recordamos que repetia com frequência: todas as dioceses do mundo entram em nossos planos.
  • Sua visão foi inovadora ao gerar uma educação centrada no amor e na presença, mais que na correção ou no castigo. Iniciou o projeto não só para as crianças sem escolas, senão também atendeu situações de periferia como os órfãos, os surdos-mudos e outros mais. Imaginou comunidades de Irmãos, com um forte acento na vida fraterna, colocando-se a serviço das crianças e jovens, sobretudo os mais vulneráveis. 

Junto com esses elementos que refletem a visão de Champagnat, conhecemos situações difíceis de sua vida, nas quais ele foi capaz de olhar além: os momentos de crise de vocações; as frequentes críticas da gente, inclusive de clérigos próximos a ele; as dificuldades para quitar as dívidas às quais se comprometia; algumas crises dentro da comunidade dos Irmãos; dificuldades com relação a algumas escolas; os momentos de sua própria enfermidade e vulnerabilidade; a longa espera buscando conseguir a autorização do Instituto; momentos de crise social, política, religiosa; etc. Frente a tudo isto, Marcelino foi capaz de seguir em frente, de cortar a rocha e construir. Sua fé e sua convicção profunda de que esta obra era obra de Deus, obra de Maria, fizeram-no sempre manter a esperança. Soube caminhar junto a seus Irmãos, a partir da escuta, animando-os e também confrontando-os quando era necessário.

Nosso olhar para o futuro

Junto com a intuição fundacional de Champagnat que deu origem ao nosso Instituto, contamos, ao longo da história, com testemunhos formidáveis de pessoas com visão, capazes de enfrentar situações de crises diversas, inclusive de perseguição, buscando olhar além. Em nossos dias, Irmãos e Leigos, desejamos continuar fazendo caminho juntos e buscamos manter vivo o sonho de Marcelino nas diferentes realidades onde nos encontramos. Estamos convidados a ser pessoas com visão de futuro. É tempo de desenvolver mais a criatividade e ser capaz de inovação.

Dentro de poucos meses, completaremos quatro anos desde que recebemos os apelos do XXII Capítulo Geral: caminhar juntos como família carismática global, ser farol de esperança, rosto e mãos da misericórdia de Deus, construtores de pontes, caminhando com

as crianças e jovens das periferias e respondendo às necessidades emergentes… Estes são apelos proféticos de grande atualidade para o momento que vivemos. 

  • O farol de esperança ilumina e permite olhar além. Ao mesmo tempo, a luz projetada permite ser vista de longe e gera expectativa. Fomos convidados a formar Lares de luz tanto em nossas comunidades como em nossas obras apostólicas, de maneira que a luz nos permita olhar para longe e, ao mesmo tempo, ser luz que atrai os demais. Não podemos ficar paralisados diante das situações de incerteza e complexidade do tempo presente. Somos convidados a olhar e a lançar-nos mais além de nossas próprias seguranças. É preciso olhar além de nossas portas e janelas para ser capazes de descobrir as novas realidades e necessidades que estão surgindo e desenvolver mais nossa capacidade de entrega solidária. Isto é o que continuamente fez Marcelino ao longo de sua vida.
  • Olhar além dos limites e abismos para sermos capazes de construir pontes. Pontes que favoreçam uma relação mais humana e profunda com quem convivemos diariamente e com aqueles que servimos na missão; que reduzam os abismos e fronteiras nas dimensões intercultural e internacional; que permitam comunicação e apoio solidário, promovendo o compartilhamento dos bens. Pontes entre as diversas gerações, que acolham a infância e a juventude com seus valores e limites, assim como acolhe e respeita as gerações adultas, cuja sabedoria e experiência é fonte de riqueza e fortalecimento para todos. Somos chamados a viver a profecia da misericórdia e da fraternidade, sendo rosto e mãos da misericórdia divina.
  • Frente às novas periferias e situações emergentes, precisamos ser capazes de descobri-las e de responder a elas com audácia. Ao olhar além, temos que sair de nosso conforto e segurança para fazer-nos mais solidários. O Papa Francisco, na recente Encíclica Fratelli Tutti, refere-se assim ao falar do valor da solidariedade:

“Nestes momentos em que tudo parece diluir-se e perder consistência, faz-nos bem invocar a solidez, que deriva do fato de nos sabermos responsáveis pela fragilidade dos outros na procura dum destino comum. A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. O serviço é, “em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo”. Nesta tarefa, cada um é capaz “de pôr de lado as suas exigências, expetativas, desejos de onipotência, à vista concreta dos mais frágeis (…). O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até ‘padece’ com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos ideias, mas pessoas” (n. 115).

Feliz celebração!

Com Marcelino, animemo-nos a olhar além, e busquemos responder com a mesma expectativa e intuição que ele respondeu em seus dias. Contamos com a mesma iluminação e força que ele teve. Maria, a Boa Mãe, continua inspirando-nos e acompanhando-nos neste caminhar.

Neste domingo, 6 de junho, celebramos a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo em muitas partes do mundo (em outras se celebra na quinta-feira, dia 3). Somos herdeiros do grande amor e devoção que Marcelino viveu pela Eucaristia. Inspirado por Maria, foi evidente a centralidade de Jesus em sua vida. No contexto desta Solenidade, agradeçamos o dom de nosso Pai Fundador. Feliz celebração do dia Champagnat! 

Fraternalmente,

Ir. Ernesto Sánchez Barba
Superior Geral do Instituto Marista

 

Mensagem do Superior Provincial

Queridos Irmãos e Maristas de Champagnat 

Alegremo-nos, pois temos muitos e belos motivos para recordar na fé a vida do nosso Santo Fundador, os seus ensinamentos, a sua herança a nós legada e a visão de olhar além para um futuro esperançoso de tornar Jesus Cristo conhecido e amado, sob a proteção de Maria, a Boa Mãe, e com forte sentido da presença de Deus em nossas vidas e ações para levar a bom termo a educação, a evangelização, a promoção dos direitos e defesa das crianças e jovens. Reconhecemos a força e a atualidade do seu carisma, o bem que fizemos, realizamos e a bela história que ainda temos a viver, a narrar e a escrever no Instituto, na PMBCS, no Brasil Marista e na Região Marista América Sul. 

Em nossos dias, marcados pela ação e impactos da pandemia da Covid-19, somos desafiados pelo Irmão Ernesto, SG, e também eu os animo a olhar além, a ressignificar a nossa vida, espiritualidade, vocação e missão para bem fazermos a travessia e dela sairmos melhores, + humanos, + fortes, +cuidadores, + amorosos, + solidários, + Lares de Luz… pelo testemunho de São Marcelino na administração das crises da sua vida, daquelas enfrentadas para aprovar o Instituto, das tantas outras para afastar os Irmãos e comunidades das maldades e perigos… e sobretudo para manter a unidade em nossa Família Religiosa. “Vede como eles se amam; amai a vocação e nela perseverai corajosamente” (cf. Testamento Espiritual).

É dia pois de rezarmos pelo dom de São Marcelino à Igreja e ao Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas, pelo Superior Geral e seu CG, de rezarmos uns pelos outros – continuadores que somos do Santo Fundador; pelo VII Capítulo Provincial que se aproxima; pelo “Provincial e sua missão de governar – com a ajuda do seu Conselho” (cf. Novas Constituições 127).

Para o dia 07 de JUNHO, anote em sua agenda:

Queridos Irmãos e Maristas de Champagnat, estamos vivos, felizes e agradecidos por fazer parte da história fundacional do nosso Instituto, por sermos filhos(as) queridos(as) de São Marcelino que nos convoca e nos provoca a olhar além e ver Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus nesse tempo de instabilidades e incertezas, mas cheio de bênçãos e aprendizados.

Assim como Marcelino, “deixo-os confiadamente nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Que bons lugares” .

 

Ir. Benê Oliveira
Superior Provincial da PMBCS