“Ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2, 7-8).
O mistério da encarnação começa assim: de forma muito singela, uma jovem virgem dá à luz a um filho num estábulo entre os animais, pois não havia lugar na hospedaria. Sem recursos materiais, sem ajuda de mais ninguém, apenas de seu esposo, um homem fiel aos desígnios de Deus, e dos animais que ofereciam seu calor. Surgia ali naquele ambiente inóspito o divino que se fazia carne.
Em seguida, os fiéis às promessas de Deus foram em busca do sinal, a luminosa estrela, que os guiou até a revelação dos céus. Assim também fizeram os homens mais simples, que acompanhados dos seus rebanhos de ovelhas, foram até o estábulo ver a presença do filho de Deus que ali nascia. Certamente, esse mistério veio ensinar simplicidade e humildade. O poder nascia sem tronos nem palacetes.
“A Sagrada Família, representada no presépio, é onde encontramos a inocência, a simplicidade, a ternura e mesmo a fragilidade de um Deus que toca os corações mais insensíveis” (Água da Rocha, n. 21).
Nascimento de Jesus
O nascimento de Jesus tocou corações, mexeu nas estruturas, renovou a história da humanidade.
De maneira muito intensa, tocou a São Francisco de Assis que, no século XIII, foi o autor da primeira reconstituição do momento em presépio. Desejava ver com os olhos do corpo a pobreza na qual o Menino Jesus veio ao mundo. Em Greccio, pequena cidade da Itália, idealizou a representação, como forma de visualizar e sentir a emoção. A proposta ganhou o mundo e inspirou também Marcelino Champagnat:
“Ah, meus Irmãos, contemplem Jesus deitado no presépio, carente de tudo; estende as mãozinhas convidando-nos a nos aproximar dele, não para nos fazer participar da sua pobreza, mas para nos enriquecer com seus dons e suas graças” (Vida, p.303).
Significado da encarnação
Encarnar-se significa morar junto, estar próximo, tomar a mesma forma. Este é o cuidado de nosso Deus: ser um com o humano. Sair da gruta de Belém, do bosque de Greccio, numa verdade de colo, ternura, encantamento, fecundidade de pai e mãe, silenciosa contemplação de ofício de pastores.
O presépio de Greccio lembra o calor humano que prepara o lugar para o divino nascer. Tudo se une! Animais, ovelhas, bois, o burro, pedras, árvores e plantas, céu estrelado, noite silente, anjos e canções. Há muita luminosidade em tudo e por tudo: a luz do Amor que aquece e a sensibilidade que observa um Deus ensinando convivência.
Encarnação e a natureza humana
Encarnação é a manifestação da ânsia essencial e suprema da natureza humana. O humano chega em Deus porque Deus chegou primeiro nele. A encarnação decifra o problema humano.
O Projeto de Deus não destrói, antes sublima o Projeto Humano. Dessa forma, o querer ser humano de Deus estabelece o querer ser Deus no humano. Divinizando-se, o humano é mais humano. Humanizando-se, Deus é mais Deus para nós!
Deus faz isto com muita simplicidade. Sua entrada no mundo não foi estrepitosa: deu-se à margem da história oficial, fora de um grande centro, fora da cidade, no meio da noite, no coração da terra, numa gruta de animais. Quase ninguém o percebeu. Somente aqueles que possuíam um coração aberto e boa vontade.
Ensinamentos do presépio
“A encarnação do Cristo, o presépio, ensina-nos a partilhar as alegrias e os sofrimentos da gente no mundo, a voltar ao essencial, adotando um estilo simples de vida, a admirar as crianças e a descobrir em sua fragilidade, o rosto de Deus”, nos ensina São Marcelino Champagnat.
O presépio cristão, assim, nos ajuda a entender o contexto do nascimento de Jesus. Nasce para quem, por que tem diferentes narrativas? Uns falam de pastores, outros de reis magos, outros nem falam. O que isso quer dizer? Em que isso alimenta a nossa fé? Em saber o sentido do presépio de Jesus para a fé cristã.
Sobre o presépio marista, por sua vez, na trajetória formativa, conhece-se um pouco mais da história de Champagnat e da fundação do Instituto Marista. Tanto os presépios humano, cristão ou marista falam de começos, raízes, história e como nos influenciam hoje e são vividos no nosso dia a dia.
Sem dúvida, o mistério da encarnação nos traz inúmeras reflexões. O presépio nos ajuda a viver a emoção dessa manifestação da graça de Deus. Cada peça com sua forma, seus traços, mostram não apenas personagens, mas o rosto de cada um que se faz presente na adoração do menino Deus.
E hoje, como você se sente diante do presépio?
Texto adaptado de: “O Natal e a presença significativa de Jesus Cristo no Marista”. Texto original de: Amanda Ribeiro, Chirliana Souza, Oniodi Gregolin, 2016. Disponível aqui.