Para que uma pessoa seja considerada santa, além da trajetória pessoal, são também considerados três milagres. Três vezes em que foi provado, por investigações do Vaticano, que a pessoa em processo de canonização interveio por alguém de maneira a ser considerada milagre.
O Irmão Ivo Strobino conta como foram os processos dos três milagres atribuídos a São Marcelino Champagnat. Dois que foram considerados no processo de beatificação e o terceiro para a canonização. A beatificação de Champagnat ocorreu em 1955 e a canonização em 1999.
Cura de câncer no pâncreas e fígado (milagre para a beatificação)
Foi agraciada a senhora Giorgine William Grondin, de 57 anos, natural de Winslow, Maine, nos Estados Unidos. Quatro médicos diagnosticaram a doença. Foi operada no dia 5 de setembro de 1939, mas o interventor limitou-se apenas à comprovação de um tumor maligno na cabeça do pâncreas, com ramificações no figado. Sem poder fazer nada, o chefe da equipe médica deu explicações aos parentes da doente sobre a gravidade do caso, sobre a reduzida expectativa de vida, e sobre a oportunidade de levá-la de volta para casa para que, ao menos, tivesse o consolo de morrer rodeada pelos familiares.
De um sobrinho, que era Irmão Marista, a sra. Grondin havia recebido imagem e relíquia do padre Champagnat. Levava-as sempre consigo e estava com elas no dia da cirurgia. Quando foi conduzida de volta para casa pediu para começar uma novena ao Venerável padre Champagnat. A partir da segunda semana do seu regresso, começou a sentir-se melhor e lentamente se restabeleceu. No Natal de 1939 já tinha reassumido todas as atividades normais de dona de casa. Em janeiro de 1946, em depoimento processual, dois dos médicos que tinham atendido a doente, os doutores Goodrich e Chasse, atestaram que não havia resquícios da doença diagnosticada em 1939. A senhora Grondin esteve presente em Roma, em 1955, na cerimônia de Beatificação de Champagnat.
Cura de meningite aguda (milagre para a beatificação)
Foi agraciado o jovem Jean-Antoine Ranaivo, que tinha 13 anos de idade e era aluno do Pensionato Marista da cidade de Betafo, em Madagascar. Acusou sintomas de meningite aguda no início de novembro de 1941. Por causa da gravidade da doença foi transferido para um Hospital de maiores recursos, na capital, Antsirabe. Três médicos confirmaram o diagnóstico. A análise do líquido encéfalorraquidiano, feita no dia 12 de novembro, acusou que a infecção já havia atingido nível crítico. Os remédios aplicados não produziam o efeito esperado; a situação era grave. No dia 13 de novembro, à tarde, o chefe da equipe médica autorizou a presença do padre August Mistral à cabeceira do doente, para a Unção dos Enfermos.
Naquele mesmo dia, o Irmão Diretor da Escola Marista de Antsirabe, que tinha sido informado da gravidade da situação, propôs aos alunos, aos formandos, ao senhor pároco e às Irmãs de uma comunidade religiosa, o início de uma novena ao Venerável padre Champagnat, para obter a graça da cura de Jean Ranaivo. Inexplicavelmente, a partir daquela noite, a febre começou a diminuir e o jovem apresentou melhoras sensíveis, voltando à consciência, perdendo a rigidez da nuca, manifestando apetite e movimentando-se de novo. Os médicos constataram com admiração o desaparecimento dos sintomas da doença, mas, por precaução, mantiveram-no hospitalizado ainda por vários dias. Mais tarde, por ocasião do Processo, em 1946, dois médicos da equipe, Armand Laquièze e Maurice Fourcade, atestaram a cura completa do rapaz. Jean-Antoine Ranaivo esteve presente em Roma, em 1955, na cerimônia de Beatificação de Champagnat.
Cura de Histoplasmose pulmonar (milagre para a canonização)
Foi agraciado o Irmão Heriberto Weber, nascido na Alemanha, mas que pertencia à Provincia Marista do Uruguai. Em maio de 1976, quando contava 68 anos de idade, foi-lhe diagnosticado câncer pulmonar bilateral (diagnóstico alterado mais tarde, durante o Processo). Em junho, apesar de hospitalizado em Clínica Especializada, recebendo tratamento adequado, o mal progredia, e seu estado de saúde piorava sempre. No dia 15 de julho, o Irmão Provincial, sabedor da gravidade do caso, enviou um comunicado a todos os Irmãos, aos professores e algumas pessoas amigas dos Irmãos, solicitando uma novena ao padre Champagnat em favor do Irmão Heriberto.
Vários médicos, enfermeiros e funcionários da Clínica atestaram que se tratava de um doente em fase terminal, tendo sido até transferido para um quarto reservado aos pacientes em fim de vida. Os parentes do Irmão, na Alemanha, tinham sido avisados do possível próximo desenlace. Quanto à novena, foi feita por várias pessoas, conforme foi testemunhado no inquérito processual. Quando se esperava o pior, houve melhora súbita, entre os dias 25 e 26 de julho. As radiografias do dia 26, comparadas com as anteriores, já não acusavam nódulos nos pulmões. A recuperação foi completa, tanto que, alguns dias depois, o Irmão tinha voltado às suas funções de administrador do Colégio.
O exame dessa cura por parte da comissão médica do Vaticano foi longo e rigoroso, exigindo um volumoso dossiê de informações e de atestados complementares. A doença do Irmão Heriberto foi reavaliada e diagnosticada como Histoplasmose, doença com características semelhantes à do câncer nos pulmões. Apesar da nova caracterização da doença, os médicos da comissão vaticana, diante da evidência do estado clínico gravíssimo do paciente e da sua cura imediata, persistente e sem sequelas, declararam, em 1997, que se tratava de cura cientificamente inexplicável. No ano seguinte, em junho de 1998, a comissão teológica aceitou a realidade daquela cura como milagre. O Irmão Heriberto faleceu com 80 anos, tendo sobrevivido doze anos à cura miraculosa. Faleceu em 1988, em Montevideu, vítima de acidente de trânsito.
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