O projeto “Carta do Irmão”, promovido pelo Núcleo de Identidade, Missão e Vocação (NIMV) do Corporativo do Grupo Marista, compartilha histórias e reflexões – trazidas pelos Irmãos Maristas – para que nunca esqueçamos nossa missão. Na última edição, o reitor da PUCPR, Ir. Rogério Mateucci, refletiu sobre a importância da defesa das infâncias. Para este mês, temos o Ir. Vanderlei Siqueira, presidente do Grupo Marista, que nos convida a pensar sobre a nossa herança Marista por meio da celebração do Dia de Champagnat.

A luz de Champagnat: celebrando a nossa herança Marista

Em junho, comemoramos o Dia de São Marcelino Champagnat, nosso fundador. Dias atrás, alguém me perguntou por que celebramos a festa de Champagnat em 6 de junho, data de sua morte, e não no de seu nascimento, 20 de maio. Essa pergunta interessante nos leva a uma resposta central no cristianismo. A morte, para a Igreja, é uma passagem para a vida eterna, simbolizando um renascimento. Por isso, celebramos nossos santos no dia de sua morte, a passagem para a vida eterna. Assim, o que já era costume na história Marista recebeu um reforço muito especial no ano de 1999, quando o Papa João Paulo II canonizou nosso fundador, reconhecendo o valor exemplar de sua vida e apresentando-a como modelo para todo o povo de Deus.

Nessa perspectiva, gostaria de relembrar três faróis do patrimônio histórico, cultural e espiritual Marista, que podem iluminar nossa vida, vocação e missão: a liderança profética de Champagnat, o reconhecimento, pela Igreja, de sua santidade e a celebração da semana Champagnat.

  • Sobre a dimensão da liderança profética de Champagnat, podemos percebê-la na determinação e resolução com que se dedicou a fundar uma congregação de irmãos para levar educação às crianças e jovens, principalmente os mais necessitados. Na Bíblia, os profetas são pessoas que defendem a dignidade do povo e a construção do Reino de Deus, não medindo esforços para isso, mesmo que o preço seja a entrega da própria vida. Marcelino tinha esse objetivo como pedra fundamental de seu empreendimento. Ele, ainda na infância, presenciou a agressão de seu professor a um de seus colegas. Esse fato traumatizante levou-o a desistir da escola logo no início, retornando a ela apenas aos 14 anos de idade, quando foi convidado a entrar no seminário. Consequentemente, como outros jovens camponeses pobres, enfrentou as dificuldades oriundas da não alfabetização no tempo correto. Mais tarde, em 1816, logo após sua ordenação e nomeação para a comunidade de La Valla, o encontro com o jovem Montagne foi o impulso decisivo para a fundação. Como líder profético, a dor de presenciar a morte de um jovem analfabeto, ignorante na fé e, portanto, sem o conhecimento que lhe poderia conferir um pouco mais de dignidade humana, fez-lhe acelerar seu projeto educativo. A dor que ele próprio sentiu na pele, e que agora presenciara ao assistir à morte daquele jovem, não poderia ficar sem uma boa resposta.
  • A esse primeiro farol, um segundo foi-nos dado pelo Papa João Paulo II, em 1999. Ao conferir a santidade a Marcelino, a Igreja reconheceu e apresentou sua vida como exemplo para o mundo. Uma referência no seguimento de Jesus e amor ao próximo. A presença dos milhares de Maristas na praça de São Pedro, vindos dos mais longínquos países do mundo, falando e se entendendo numa única língua, foi uma demonstração do alcance e impacto da vida e missão desse homem. A instalação de sua estátua de mármore na praça de São Pedro, com o título “Gigante do amor”, soou para nós como dádiva, um farol que ilumina o mundo com os diferenciais da educação Marista. Ao carregar uma criança nos ombros, aliviamos o seu fardo. Ao mesmo tempo, somente uma relação de presença e confiança possibilita que ela se sinta segura e à vontade para assentar-se junto aos nossos pés.
  • O terceiro farol, que gostaria de destacar, é aquele que advém das muitas Semanas Champagnat, tão bem vivenciadas por dezenas de milhares de estudantes e colaboradores em todas as nossas escolas, colégios, universidades e demais unidades Maristas.
    Pessoalmente, lembro-me, com emoção, do Ensino Médio feito no colégio Marista de Londrina, na década de 90. Com que alegria e dedicação todos vivenciávamos os jogos, a gincana e a extraordinária arrecadação de alimentos. Quantas pessoas pudemos ajudar com aquelas toneladas de donativos. O quanto pudemos aprender e crescer como pessoas e comunidade. Depois, na função de diretor, foi gratificante presenciar a continuidade daquela tradição no colégio Marista Pio XII, em Ponta Grossa. E, ainda hoje, desde a presidência do Grupo Marista, ver tantas iniciativas que continuam iluminando o mundo, formando bons cristãos e virtuosos cidadãos.

Em síntese, posso dizer que o dia de São Marcelino Champagnat tem sido um farol de esperança na minha vida, vocação e missão e, acredito, que também tem sido para muitos dos que estão lendo este texto e/ou tiveram e têm a oportunidade de conhecer seu carisma. O convite dessa festa é para celebrarmos o nosso fundador. E, mais do que isso, continuarmos olhando o mundo com os olhos de Jesus, desde a nossa missão, seja na Educação Básica, no Ensino Superior, na FTD Educação, na área da Saúde, no Centro Marista de Defesa da Infância e, também, no projeto de vida que vai além dos nossos ambientes de trabalho. Parafraseando o nosso vigário geral, Irmão Luis Carlos, para continuarmos crescendo na dimensão da liderança profética, não podemos perder a sensibilidade para com as dores do mundo, fazendo o exercício de nos perguntar continuamente sobre aquilo que nos dói. Para construirmos o Reino de Deus, conforme a proposta de Jesus, essa sensibilidade e questionamento pessoal e institucional são fundamentais.