Confira o depoimento do Irmão Hugo Depiné sobre a experiência dele com o Movimento Champagnat da Família Marista (MChFM), em Itapejara D’Oeste (PR).

Fraternidade Irmão Mauricio Moretti 

Primeiramente, gostaria de agradecer a honra/responsabilidade do convite a mim dirigido para relatar um depoimento sobre a minha participação na e com a Fraternidade Irmão Mauricio Moretti (FIMM). O relato não pretende abranger todos os aspectos das convivências, espiritualidades, celebrações e ações concretas em prol da comunidade – isto porque a Fraternidade já estava realizando sua trajetória quando entrei nela. E prosseguiu após a minha transferência para Florianópolis.

Em Itapejara D’Oeste, igual a todos os municípios de pequeno porte, todos se conhecem, todos sabem e/ou podem saber da vida de quase todos. Isto tem um significado muito especial porque, ainda que, por exemplo, um Irmão Marista se dedique a trabalhos não diretamente voltados a educação/escola, ele – como qualquer outro cidadão itapejarense – não passa desapercebido aos olhos da população.

Talvez tenha sido um pouco essa a característica do abnegado Ir. Mauricio. Como Animador Vocacional, teve sempre um olhar voltado aos jovens do sudoeste do Paraná. Soube cativar e conquistar os corações do povo sudoestino.

O encanto pela educação de jovens e crianças, numa cultura vocacional, fez com que a Província Marista investisse num “centro de eventos” hoje denominado Centro Educacional Marista Itapejara (CESMAR). Uma das provas do reconhecimento desse trabalho é o fato das(os) fraternas(os) escolherem e denominarem como patrono da fraternidade o nome do educador Irmão Mauricio Moretti.

Adentrando nesse meu relato, gostaria de dividi-lo em quatro dimensões, como disse um pouco na parte introdutória. Ou seja: Convivências, Espiritualidade, Celebrações e Ações concretas.

1ª) Convivências

Pelo fato do Marista Escola Social – Unidade Itapejara estar ao lado da residência Marista e Cesmar, e de me envolver com os professores(as), biblioteca, convivência no pátio, entrada dos alunos etc., o convite e participação na FIMM foi quase que espontâneo. O fato de quase a totalidade das fraternas estarem vinculadas à unidade resultou numa simbiose de “interesses”. Tudo se encaixava ao meu perfil de Irmão, professor, educador, catequista, esportista, etc.

Não fora esse ambiente de respeito e corresponsabilidade na educação, também partilhada pelos coirmãos da comunidade, e o fato da colaboradora do CESMAR, Sra. Susane, por motivos profissionais, pedir para que assumisse o MChFM em Itapejara, possivelmente não teria participado de forma tão efetiva das fraternidades Irmãos Miguel Toukacz, Mauricio Moretti e mais tarde, Fraternidade Adelina Chiapetti.

Tais convivências se estenderam aos maridos e membros da família das respectivas fraternas ligadas à unidade e outros(as) fraternos(as). Desse profundo intercâmbio, resultaram projetos que desenvolvemos sempre em sintonia com direções e equipes pedagógicas do Irmão Isidoro e CESMAR.

Destaco com muita emoção a espiritualidade feita no início de cada grande evento do Marista Escola Social. Bem como as orações no início das aulas. Sempre com a participação de alunos(as) de outras denominações religiosas. Também o projeto “Por uma Itapejara mais bonita”, com o plantio de pinhões, distribuição de mudas de árvores nativas e sorteio de brindes aos alunos. E, além disso, as inúmeras parcerias realizadas com o CESMAR e a Paróquia Senhor Bom Jesus da Redenção, dos Palotinos.

Assim, o quotidiano dos fraternos(as) era como que assumido de forma transversal nos temas desenvolvidos nas reuniões da Fraternidade. E se estendia na convivência ao final da reunião, quase sempre na partilha do lanche e líquidos. Devo dizer ainda que, quando o tempo permitia, nossas convivências prosseguiam por um tempo considerável após as reuniões. Era como um renovar de energias e de propósitos para prosseguir na semana seguinte.

2ª) Espiritualidade

Na espiritualidade, a Palavra de Deus – quase sempre da Liturgia Diária ou dos Cadernos Formativos do MChFM.

A espiritualidade na FIMM foi vivenciada como uma chave para abrir os corações de cada participante da reunião semanal. Não havia, como posso dizer, na partilha da Palavra, interpretações que resultassem na utilização da mesma para a não edificação mútua.

Muitas vezes, a Palavra nos tocava profundamente e, resultava como que num “ato penitencial”, no qual em grupo reconhecíamos que não havíamos agido de forma como o Senhor nos pedia. Nesse momento, parecíamos estar realizando um “mea-culpa grupal” e arrependidos por nossas limitações/ pequenez, arranjávamos forças para traçar novas metas para a semana.

3ª) Celebrações

Encontro Anual das Fraternidades, Lava-pés na Páscoa, Dia de Champagnat, Dia do Marista, retiros…

Na realidade, tudo o que se realiza na Fraternidade do MChFM converge para uma celebração das pequenas conquistas, desafios superados durante a semana –  não sendo assim, menos importantes do que aqueles sugeridos nessa terceira dimensão.

O destaque para o Encontro Anual das Fraternidades, por exemplo, devo considerar algo bem peculiar, porque o fato de nos organizarmos para a viagem, de modo que as três fraternidades participassem de forma igualitária, se transformou num evento que durava além dos dois dias do encontro.

Partilhávamos as guloseimas, o chimarrão, a vaquinha para pagar as diárias do motorista, as mensagens das crianças do CESMAR.  O micro-ônibus, cedido pela Polícia Militar de Itapejara, tornou-se em alguns trechos, uma sala itinerante, onde nos sentíamos irmãos/ãs. “E todos repartiam o pão e não havia necessitados entre eles!” (Cf Atos 4,34).

Na véspera da Páscoa, o Lava-pés – uma celebração de significado profundo para nós cristãos. Lavar os pés do esposo(a), filhos(as), parentes, educandos, colegas de trabalho… Um projeto de vida jamais concluído e pouco vivenciado que nos remete ao Mestre Jesus, que doando-se pela redenção da Humanidade, tornou-se o Bom Pastor por excelência.

As celebrações de Champagnat e o Dia Marista na Fraternidade Ir. Mauricio Moretti ainda repercutem em meu coração. É impossível descrever o quanto tais festividades são esperadas pelos alunos(as) do Marista Escola Social. Toda vibração que é vivenciada por meio dos esportes e do bolo partilhado. Fruto de uma vivência interior que desabrocha em festa, alegria, renovação.

Finalmente, ao descrever os retiros realizados, devo dizer o quanto houve de apoio na organização e acolhida de fraternos(as) e pregadores. Graças à coparticipação das Fraternidades de Itapejara, o peso da organização dos mesmos fora dividido entre todos. As estruturas locais, as do Marista Escola Social e Paróquia foram sempre de grande importância por abrirem suas portas. Citar nomes não me atrevo. Foram muitas reuniões para a programação, para organizar os materiais, hospedar fraternos e pregador, cozinhar, lavar a louça e deixar os locais em ordem para as atividades da semana seguinte.

4ª) Ações concretas

Fruto das convivências onde percebíamos as necessidades “alhures”, dos temas desenvolvidos tanto nas reuniões e celebrações – as Ações Concretas foram como que o coroamento de tudo.

“Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão/irmã, eu fechei meu coração, meu amor eu recusei?” (Balada da Caridade).

Sim, essa compaixão pelo irmão/irmã empobrecido foi acolhida por todos(as) – resultando em doações de materiais de construção, cestas básicas, dinheiro em espécie, ajudas diversas aos haitianos, etc.

Uma corrente do bem formou-se porque sentíamos a urgência em sair de nós mesmos, em fazer um esforço para não deixar a peteca cair. Nada nos deteve, nada nos constrangia, nada nos deixou apequenados. Fomos ao encontro, abrindo espaços de participação, negociação, entreajuda.

Fazer acontecer

Finalizando, nada que eu possa me vangloriar. Por quê? Porque como disse acima, não fora a somatória dos esforços de todos os fraternos(as), nada disso teria sido e se tornado concreto.

Sou muito grato a todos por ter convivido por nove anos no Sudoeste do Paraná. Quantas vezes me preocupava com isso ou aquilo e, quando menos me apercebia, alguém tomando a dianteira organizava, preparava e fazia acontecer.

Percebi um grande crescimento em todos os aspectos da parte de todos(as). Uma pequena família-global”  que não se restringia em cuidar dos próprios fraternos(as). Saímos de nós mesmos, deixando as zonas de conforto para resgatar coirmãos/ãs. Isso é seguimento de Jesus Cristo – nisso consiste a verdadeira caridade cristã.
 

Irmão Hugo Depiné