No dia 8 de setembro de 2020, o Superior Geral, Irmão Ernesto Sánchez apresentou à comunidade da Casa Geral sua primeira circular, com o título: Lares de Luz: cuidamos da vida e geramos nova vida

O tema da primeira circular do Irmão Ernesto nos remete ao XXII Capítulo Geral, como nos recorda o próprio autor no início do documento: “Construir lares de luz é uma das ideias surgidas durante o Capítulo Geral, enquadrada no apelo a ser uma família carismática global, farol de esperança neste mundo turbulento. Em minhas palavras durante o momento conclusivo do Capítulo assinalava, entre outros pontos, o apelo a formar lares que cuidam da vida e que geram nova vida. Foi a partir destas ideias que surgiu o título desta circular” (p.05-06).

A inspiração

O texto da circular se inspira particularmente em dois documentos recentes e importantes do Instituto: as Constituições Renovadas e o documento Aonde fores: Regra de Vida dos Irmãos Maristas

La Valla e a estátua de ChampagnatEstrutura da Circular

A partir do título da circular, o Irmão Ernesto dividiu suas reflexões em três capítulos: no primeiro capítulo, Lares de luz, ele centraliza sua reflexão na importância de manter acesa a luz fraterna por meio da vivência de uma profunda espiritualidade inspirada em Maria e em São Marcelino

No segundo capítulo, a reflexão centra-se no cuidado da vida, como um elemento chave para a construção destes lares: “cuidamo-nos pessoalmente, cuidamos dos demais, da comunidade, de nossa casa comum, cuidamos de Deus”

No terceiro e último capítulo, a proposta concentra-se na reflexão sobre gerar nova vida: a partir da coerência de vida é possível sonhar e ajudar aos jovens sonhar um futuro cheio de esperança, que termina apontando para o cuidado com a vida marista nascente (p.07). 

>>> Confira a circular na íntegra. 

Destaques da Circular

Cuidado

  1. Uma palavra-chave para o entendimento da circular é a palavra cuidado. Escrita antes, e durante o período de isolamento social pela Covid-19, um dos temas centrais da reflexão do Irmão Ernesto é a preocupação pelo cuidado numa perspectiva holística: cuidado de si, cuidado do outro, cuidado da comunidade, cuidado da “casa comum” e cuidado de Deus (expressão que nos motiva a recordá-lo, tê-lo sempre presente). 

Espiritualidade

  1. A espiritualidade pode ser entendida pela metáfora do lar. O lar é o lugar de dois elementos presentes em nossa relação com Deus: amor mútuo e a educação na fé (p. 11). Um aspecto fundamental para a formação de um lar de luz encontra-se na vivência profunda da espiritualidade, de maneira pessoal e comunitária (p.13).

Boa MãeSer transparências da luz

  1. Ser transparências da luz: assim como Maria, precisamos olhar e aprofundar para descobrir de onde nos vem a luz que desejamos transparecer ao querer viver uma experiência de lar em nossas comunidades e famílias: “Uma reflexão que venho fazendo desde que nos chegou a pandemia do Covid-19, é como o processo vital de Maria pode iluminar este momento de crises. Ela enfrentou os medos e dúvidas em três passos que nos podem servir hoje: 1º- sentimos a dúvida e o temor, e perguntamos a Deus: Como? Por que tudo isto? 2º- sentimos que somos pequenos nas mãos de Deus e confiamos nele. Faça-se! 3º- colocamos mãos à obra para colaborar no que podemos, servindo aos demais. Como Maria, frente a incerteza e o temor, necessitamos a fé, a confiança, a paixão por Deus e pela humanidade, como fundamentos sólidos para ir adiante” (p. 16).

Interioridade

  1. Uma espiritualidade iluminada pela descoberta e aprofundamento da interioridade: “Não é de estranhar que numa sociedade onde a comunicação se faz cada vez mais rápida e que pede respostas imediatas, parece que tudo deve ir mais rápido… pouco espaço sobra então para a reflexão, para o silêncio, para o discernimento. Assim sendo, precisamos abrir caminhos de aprendizagem sobre como viver a interioridade e como aprofundar nossa espiritualidade, como algo essencial, se desejamos ser luz em e a partir de nossos lares” (p.19).

Luz em meio à escuridão

  1. Marcelino, luz em meio à escuridão: “Consideramos a vida inteira de Marcelino Champagnat como uma luz em meio a realidades obscuras que existiam em seu tempo. Luz em meio aos jovens que considerou e atendeu de maneira prioritária e preferencial quando iniciou o Instituto e ao realizar sua missão evangelizadora. Luz em meio a seus Irmãos, com quem conviveu de maneira muito próxima, buscando formar, desde as origens, lares de luz. Luz entre seus companheiros Sacerdotes, mostrando o rosto materno da Igreja, vestindo o avental, pondo as mãos à obra…” (p. 25-26).

Comunidade

  1. Viver a comunidade como uma experiência fundante: “A palavra Irmãos é inseparável da palavra comunidade, implicam-se intrinsecamente. Como ser pai, mãe, irmão ou irmã, em se tratando da família. A dinâmica que se deseja viver nas comunidades, nas famílias, nas fraternidades, inspira-se no próprio Deus, que é relação, pois ‘o amor trinitário é o manancial de toda vida comunitária’” (Const. 47).

Experiência

  1. Viver a comunidade “como uma experiência, mais do que como um lugar” é uma chave importante que se nos oferece quando se trata de construir lares de luz. “O valor da inclusão é essencial na construção de lares de luz. Trata-se de conhecer-nos e aceitar-nos a partir da diferença e da complementaridade” (p.36).

Estátua de Marcelino Champagnat e o jovem Gabriel RivatEquilíbrio

  1. Cuidar de si mesmo: “O cuidado de si começa pelo cuidado da própria saúde. Trata-se de um sadio equilíbrio, sem cair numa preocupação excessiva e, ao mesmo tempo, evitar qualquer tipo de negligência que, com o tempo, poderia voltar-se contra nós. Levar um ritmo de vida que integra harmonicamente o trabalho, o descanso, o exercício físico, o estudo, a convivência, o uso dos meios de comunicação, os momentos de silêncio, a participação comunitária e familiar” (p.37).

Cuidado das pessoas

  1. Cuidado das pessoas: “Parece-me importante sublinhar esse tema do cuidado dos Irmãos de todas as idades, assim como dos Leigos e Leigas com quem compartilhamos vida e missão. Exercitar com os demais a virtude da delicadeza, “essa fineza de coração que permite dar-nos conta do Irmão que se encontra em dificuldade e ajudá-lo com tato”. Como estamos atentos para descobrir o irmão ou irmã quando se encontra em dificuldade? Que meios empregamos para apoiá-lo?” (p.43).

Estruturas

  1. Estruturas que cuidam da vida: “A missão é um objetivo nuclear, mesmo não sendo o fim único, pelo qual formamos comunidade, pois, de fato, a missão começa com a vivência e o testemunho comunitário. Valeria a pena perguntar-se, se, em algumas partes do mundo marista, não será a forma como está estruturada a missão que, de alguma maneira, parece estar tomando-nos demasiadas energias e diminuindo nossa capacidade de cuidar da vida pessoal e a dos outros” (p. 45). 

Ponte em La VallaCasa comum

  1. O cuidado com a casa comum: “Para cuidar de nossa casa comum, todos temos que passar por uma alfabetização ecológica e revisar nossos hábitos de consumo. Precisa desenvolver uma ética do cuidado: ‘O cuidado da Terra representa o global. O cuidado do próprio nicho ecológico representa o local. O ser humano tem os pés no chão (local) e a cabeça orientada para o infinito (global). O coração une chão e infinito, abismo e estrelas, local e global. A lógica do coração é a capacidade de encontrar a justa medida e construir um equilíbrio dinâmico’” (p. 48).

Luz e Deus

  1. Cuidado da luz, cuidado de Deus: “A capacidade de entrar em contato com nosso mundo interior, iluminado pela fé, permite-nos distinguir aquilo que vem ou não do Espírito. Permite-nos diferenciar quando se trata de nosso ego que busca chamar a atenção, alimentando sua vaidade e orgulho próprio, ou bem quando se trata de aceitar com simplicidade e humildade que esse mesmo ego nos fez passar por uma má jogada… Quantas situações de relações humanas difíceis, e inclusive de bloqueios, poder-se-ia ter tratado de forma diferente se cada qual olhasse com sinceridade e humildade sua própria verdade e a verdade do outro, a partir da luz do Espírito” (p. 51-52). “Cuidar de Deus é buscar transparecê-lo com nossa vida, como fez Maria” (p.56).

Coerência

  1. Geramos vida a partir da coerência: “O lar de luz é comunitário. Haveremos de compreender que coerência de vida não significa perfeição, senão transparência e autenticidade. Os jovens não nos querem perfeitos: ‘a linguagem que a gente jovem entende é daqueles que dão a vida, aquele que está ali por eles e para eles, e aqueles que, apesar de seus limites e debilidades, tratam de viver sua fé com coerência’” (p.64).

Ancião

  1. A valorização do ancião: “Junto com a palavra coerência, vem-me à mente outro termo chave para gerar nova vida: sonhar. Sim, trata-se de sonhar. Na Exortação Apostólica pós-sinodal, Christus Vivit, o Papa Francisco faz alusão aos sonhos dos anciãos: «Derramarei meu Espírito sobre toda carne e seus filhos e suas filhas profetizarão, e seus jovens terão visões e seus anciãos sonharão sonhos». (Jl 3,1; cf. At 2,17)44 E expressa em continuação: “Os anciãos têm sonhos construídos com recordações, com imagens de tantas coisas vividas, com a marca da experiência e dos anos. Se os jovens se agarram a estes sonhos dos anciãos, alcançarão ver o futuro, podem ter visões que lhes abrem o horizonte e lhes mostram novos caminhos. Porém, se os anciãos não sonham, os jovens já não conseguem olhar claramente o horizonte” (p.65).

L'HermitageCultura vocacional

  1. A valorização de uma cultura vocacional: “Com respeito ao conceito de vocação e de pastoral vocacional há uma contínua evolução nos últimos anos. De uma linguagem de recrutamento e promoção vocacional passou-se, já faz muito tempo, a falar de pastoral ou de animação vocacional, que seja aberta a todos, buscando que cada jovem encontre seu próprio lugar. De uma pastoral que parecia ‘pertencer’ só aos Irmãos passa-se a uma pastoral de missão compartilhada, Irmãos e Leigos corresponsáveis da vida e missão maristas e, portanto, corresponsáveis em gerar nova vida marista. Valoriza-se a riqueza das diferentes vocações dentro da Igreja e, quanto ao carisma marista, as vocações à vida consagrada e à vida laical maristas, reconhecendo que ambas se complementam” (p. 71). 

Jovens

  1. Gerar vida junto com os jovens: Necessitaremos situar-nos humildemente mais como discípulos que como mestres, buscando co-criar, lado a lado com os jovens, o sonho de Deus (p.73). “Queremos formar lares de luz junto com os jovens. Eles são luz para nós. Sua contribuição e criatividade permite-nos respirar um ar fresco, enquanto nos oferecem pistas para desenvolver e adaptar nossa missão” (p.74-75).

Comodidades

  1. Sair das comodidades e seguranças: “Criar ou converter-nos em lares de luz que geram nova vida implicará sair de nosso mundo de comodidades e seguranças, e querer ser luz no meio das sombras por meio de ações concretas como a acolhida, a compreensão, a proximidade com os jovens… e também a solidariedade, a gratuidade, a dedicação verdadeiramente prioritária de nosso tempo e recursos” (p. 76).

Futuro

  1. Um futuro com nova vida marista: “Com relação ao carisma marista, também necessitamos um novo paradigma, tanto na maneira de conceber a vocação marista, como na forma de dá-la a conhecer e acompanhar aqueles que se sentem chamados a vivê-la. Em nosso tempo, não seria válido manter uma animação vocacional centrada em ‘promover e atrair’ vocações para nosso Instituto. Não quero dizer com esta ideia que não deveríamos propor a vocação de Irmão, e compartilhar a felicidade de nossa vida como Irmãos… senão que o paradigma que hoje nos é pedido, é centrarmo-nos prioritariamente na pessoa, sua vocação de plenitude, e a palavra amorosa que Deus sussurra pessoalmente no interior de cada jovem… e não tanto ‘o desejo de sobreviver «a todo custo»’, como expressou o Ir. Seán Sammon durante o Ano vocacional, em 2005” (p.80).

Acompanhar

  1. Acompanhar a vida marista nascente: “Só com maristas apaixonados no seguimento de Jesus, como religiosos Irmãos ou como Leigos maristas, será possível construir «Um Novo La Valla», expressei na conclusão do XXII Capítulo Geral aos delegados capitulares. Eu não duvidaria em investir tudo o que seja necessário em energias humanas e recursos financeiros para suscitar e acompanhar os processos vocacionais. Com isto quero insistir equilibradamente na necessidade do testemunho, conjugado com ações planejadas para gerar nova vida marista” (p.87).

Discípulos

  1. Como discípulos de Emaús: “Pode acontecer que com frequência invade-nos a tristeza e a desolação, pois vivemos tempos confusos. Temos mais perguntas que respostas e, como homens e mulheres de ação, desejaríamos encontrar soluções eficazes e atuar prontamente. Nos últimos anos mudaram tantas coisas no Instituto, na Igreja, na sociedade…. Alguns não conseguimos entender todo este movimento. A outros nos custa muito viver em tempos de incerteza. Sem dúvida, mesmo que talvez não o percebamos no todo, o Senhor caminha conosco, acompanha-nos de perto em nossa própria escuridão, envía-nos sinais de uma ou outra maneira. Porém, nossos olhos não os reconhecem, explica-nos e não entendemos…” (p. 95).  “Abramo-nos com esperança e vamos sem demora, como os discípulos, anunciar que está presente e vivo, este Jesus, por quem nossa vida e missão têm sentido. Ali, junto com os demais discípulos, sabemos que está Maria, próxima e solidária, como está hoje entre nós, nesta sua obra. Estamos nas mãos da Boa Mãe. Não podíamos estar em melhores mãos! Acompanhados por ela, construamos lares de luz que cuidam da vida e geram nova vida” (p.96).