No Dia do Educador Marista, que celebramos no dia 15 de outubro, costumamos lembrar dos ensinamentos de São Marcelino que fundamentam a Educação Marista. Mas também gostamos de mostrar exemplos de pessoas dedicadas à missão de educar. E, principalmente, como elas trazem esses ensinamentos para os dias atuais.
Em 2021, pedimos para o Ir. Tiago Fedel e para Aline Cipriano compartilharem conosco suas trajetórias na docência e suas principais considerações sobre a vivência dessa missão. Sobretudo, como maristas de Champagnat.
Aline Cipriano
Bibliotecária e educadora no Marista Escola Social Lúcia Mayvorne, de Florianópolis/SC
A leitura é importante para …
A leitura e a biblioteca sempre fizeram parte da minha vida escolar, a biblioteca era o meu refúgio possível. Tornei-me educadora após uma longa caminhada… Nessa caminhada tive poucos encontros com professores negros e negras, pouquíssimos, das dezenas que contribuíram com o meu processo formativo. Nos livros encontrei os referenciais, entre as estantes, estavam as princesas, rainhas, personagens pretos que eu precisava para seguir o meu caminho e fazer a diferença. Sempre acreditei na educação e na informação e o quanto elas poderiam ser libertadoras.
Pensamento no futuro
Hoje como bibliotecária tenho como missão além de estimular entre as crianças, adolescentes e jovens o gosto pela leitura, possibilitar o acesso à informação e nessa caminhada, como educadora, minhas ações e projetos tem por objetivos que esses meninos e meninas usem esse conhecimento para o exercício da cidadania.
Amor em movimento
Ser educador ou educadora Marista é ter as suas práticas pautadas no amor, na garantia de direitos e na sensibilidade de contribuir para que o processo formativo das crianças, adolescentes e jovens seja o mais humanizado possível. Marcelino Champagnat nos deixou um legado e nos orientou que “Para bem educar é preciso amar, todos igualmente”.
Logo, amar é o mandamento, é o verbo, é a ação que permeia minhas práticas como educadora. E esse amor se renova a cada dia, em cada olhar, sorriso, abraço. É com amor e por amor, que sigo cada dia nessa missão.
Irmão Tiago Fedel
Começou a dar aulas em 2005 e atuou como professor até 2017. Somente em alguns períodos ele se ausentou do ofício para realizar outras formações, como em 2010 e 2011.
A descoberta da docência
“Talvez haja uma grande possibilidade de a gente ser quando adultos aquilo que fazíamos e brincávamos quando éramos crianças. Eu me lembro de que quando criança brincava de dar aula para os meus irmãos. Brincava de ser professor. Eu tinha um quadro e “rabiscava” lições de casa e ensinava a desenhar algumas letras para eles”, conta Ir. Tiago.
Com o passar do tempo, outras oportunidades para dedicar a vida foram aparecendo, caminhando junto com o gosto que ele tinha para ensinar.
“Eu já não brincava mais de dar aulas, mas sempre fui uma pessoa próxima de meus colegas de estudos e tinha um apreço por auxiliar os meus amigos nos estudos. Eles também me ajudavam, principalmente quando o assunto era conteúdos de matemática. No meu último ano de faculdade, tive a oportunidade de assumir umas aulas de um curso de Filosofia e Teologia para leigos. Eu, nesta época, não tinha plena certeza de que eu queria mesmo ter a profissão de docente. No entanto, esta experiência foi muito boa, e aquilo que era uma possibilidade de atuação, se tornou uma vocação e uma proposta bem-querida para um projeto pessoal de vida”.
Formação
“Neste tempo, tive a oportunidade de dar aulas de Filosofia, Sociologia, Ensino Religioso na Educação Básica, principalmente no Ensino Médio, e em Colégios Maristas. Eu tive algumas experiências de voluntariado e de breve atuação no Ensino Público, também, mas bem breves mesmo. A experiência foi aumentando, e ao mesmo tempo, aumentando a necessidade de capacitação”, relata.
Por isso, posteriormente, o Ir. Tiago seguiu seus estudos em Pedagogia e no Mestrado em Educação, com ênfase na formação continuada de professores. A saber, ele se dedicou, sobretudo, a estudar o Paradigma da Complexidade de Edgar Morin, a fim de pensar em caminhos para uma Educação Integral.
Aprendizados decorrentes da vivência como educador
“Fui entendendo que ser professor era também estar comprometido com uma educação integral do ser humano em prol de um projeto de vida, para uma vida com sentido e para uma vida capaz de fazer a diferença onde se está, para si mesmo e para os outros. Quando tomei consciência disso, minha forma de ser professor mudou muito e meu entusiasmo para com a docência e a educação ganhou mais sentido, o que me deixava mais realizado”.
Proximidade com os alunos
“Próximo no sentido de ajudá-los numa formação que também era para a vida, uma vida com sentido, com propósito. Próximo porque comecei a entender os alunos nos seus contextos, experiências, situações de vida. E ter consciência disso fazia muita diferença na hora de ensinar. E, certamente, vi que minha atuação também era uma missão em que eu agregava aquilo que eu tinha formação para fazer, com aquilo que eu poderia ganhar enquanto condições para viver, com aquilo que era bom para o mundo e com aquilo que eu amava fazer. E nisso eu entendia ser a minha missão de vida”.
Nesse sentido, o compromisso com um olhar mais amplo para o ofício de educar também é o que possibilita construir uma educação diferente.
“Por exemplo: quando nos comprometemos com o projeto de vida dos alunos, com a realidade deles, com a situação deles, é fato que isso me levará a ser um professor que também cuidará de outros elementos tão importantes quanto os conteúdos. Eu acho isso muito bacana. Acho que ajuda a melhorar até as relações. Os alunos percebem que somos parceiros deles tanto nos estudos quanto na vida”, observa o Irmão.
Formação para a vida: missão do educador marista
“No entanto, me chama a atenção o cuidado que o marista tem em cultivar e fomentar estes valores que coloquei aqui em seus espaços e entender que eles fazem parte da sua missão. Tanto para os alunos quanto para os próprios professores. Eu não conheci apenas uma instituição que promove uma formação de qualidade somente no âmbito acadêmico. Eu conheci uma instituição que entendeu que formação acadêmica e formação para a vida devem caminhar juntos. E para mim isso faz todo o sentido. Eu posso ser um bom professor de História ou de Filosofia. Mas ser um professor destas matérias também comprometido com a formação para a vida é muito mais interessante e, acredito, traz uma contribuição muito mais significativa na educação”.
Mensagem a todos os educadores
Finalmente, Ir. Tiago deixa a todos os professores a mesma mensagem que ele sempre procura dizer a si mesmo:
“Educar pode ser mais que uma atuação. Pode ser o seu projeto de vida. Onde você pode ganhar a vida e fazer a diferença na vida de alguém, no intuito de contribuir para que aquela pessoa possa também ter um projeto de vida e viver com sentido. E junto a isso, entender que o ser humano é um ser com muitas dimensões de vida inerentes à sua existência. Por isso, uma educação que possa projetar para uma vida de plenitude e sentido é aquela que não deixa de considerar uma formação integral humana e para o todo da vida”.
Dessa maneira, nosso desejo é que possamos sempre ver a educação como uma obra de amor. Assim como Marcelino Champagnat, nosso grande exemplo de educador.