Tendo Irmã Dulce como grande inspiração, a Campanha da Fraternidade 2020 tem o propósito de promover a conscientização sobre o valor da vida e as diversas realidades que a colocam em risco nos dias atuais. Abordando o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34), a iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil recorda o testemunho cristão e a obra de caridade deixados pela primeira santa brasileira. 

A história de Irmã Dulce pode ser compreendida como uma versão da parábola do Bom Samaritano, de comprometimento com a realidade ao seu redor. Indo ao encontro dos trabalhadores que viviam em condições precárias e dos enfermos, a religiosa era presença significativa para essas pessoas, colocando em prática os valores da solidariedade, da simplicidade e do amor ao trabalho. Características que estão de acordo com os valores que norteiam a atuação dos Maristas de Champagnat. 

Irmã Dulce e Campanha da Fraternidade 2020Quem foi Irmã Dulce?

Certamente, conhecer melhor esse exemplo é uma oportunidade de nos aproximar de Jesus Cristo e de seus ensinamentos. E de acreditar que, apesar das dificuldades que possam surgir no caminho, todos podem colaborar para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu no dia 26 de maio de 1914, em Salvador (BA), no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo. Era uma criança alegre, que adorava brincar. Aos sete anos, perdeu sua mãe Dulce. No ano seguinte, fez a primeira comunhão, junto com seus irmãos Augusto e Dulcinha. Já nesta época, sua disposição para trabalhar em prol da população carente chamava a atenção. 

Com 13 anos, passou a acolher pessoas em situação de rua e doentes em sua própria casa, transformando o local em um centro de atendimento. E a compreensão de sua vocação para a vida religiosa foi se consolidando. Em fevereiro de 1933, Maria Rita formou-se professora e entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão (SE). E em agosto de 1933, passou a usar o hábito de freira das Irmãs Missionárias, adotando o nome religioso de Irmã Dulce, em homenagem à mãe.

O anjo bom da Bahia

Em Salvador, atuou em um colégio no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, instituição mantida pela sua congregação. No entanto, nunca deixou de lado sua missão de estar perto dos mais necessitados. Começou a prestar serviços à comunidade pobre de Alagados e aos operários. E, pouco a pouco, fundou importantes obras sociais, como o Círculo Operário da Bahia e o Colégio Santo Antônio.

Ademais, no ano de 1949, depois de ser expulsa de outros espaços da cidade, teve início uma de suas histórias mais marcantes. Com autorização de sua superiora, Irmã Dulce se instalou em um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, com 70 doentes, e começou a construir um abrigo para melhor recebê-los. Em 1959, foi criada a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano seguinte, foi inaugurado o Albergue Santo Antônio, que posteriormente tornou-se um grande hospital.  

Santa Dulce dos Pobres

Desde cedo, a biografia de Ir. Dulce é permeada por ações de caridade e assistência aos desfavorecidos. Pela importância de sua obra e pelo exemplo de doação ao próximo, ela também ficou conhecida como o “anjo bom da Bahia”. Em 1988, Irmã Dulce chegou a ser indicada para o Prêmio Nobel da Paz. 

A religiosa faleceu em 13 de março de 1992, na capital baiana, aos 77 anos. Foi beatificada em 2011 e canonizada em outubro de 2019, sendo a primeira santa nascida no Brasil, chamada de Santa Dulce dos Pobres. 

Assim como Marcelino Champagnat, a história de amor da Irmã Dulce àqueles que mais precisavam continuam inspirando ações concretas até os dias de hoje. Um verdadeiro exemplo de fraternidade, compaixão e seguimento de Jesus Cristo.

Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso

Confira a mensagem escrita pelo Ir. Dario Bortolini que relaciona a Campanha da Fraternidade deste ano (que nos recorda o testemunho de Ir. Dulce) e o período de Quaresma:

“Estamos em pleno tempo quaresmal, embebido pela tradicional tríade: oração, penitência e esmola. É um tempo oportuno para centrar nossa atenção na figura de Jesus Cristo, que a liturgia vem apresentando para nossa oração, meditação e ação.

O meio de comunicação mensal que estamos utilizando (newsletter do MChFM) quer apontar para a vivência da Espiritualidade do Leigo Marista, tão bem estudada durante todo o ano passado, no documento referência do XXII Capítulo Geral: “Projeto de Vida em Fraternidade”. Percorremos todos os capítulos deste documento: a vocação laical, a espiritualidade, a vida partilhada, a missão, a formação e a organização. Todas as Fraternidades da Província trabalharam o tema, que é sempre bom retomar e recordar.

Desejamos, também, trazer ao coração o tema de nosso Encontro Provincial do MChFM 2019: “Os três primeiros lugares”. Essa preciosa página que nos foi legada pelo fundador São Marcelino é de uma riqueza inestimável. O presépio nos remete às atitudes de humildade, de desapego e “distanciamento” dos bens materiais; a cruz, sinal do amor de Jesus, é um permanente convite à alegre e generosa aceitação da realidade do sofrimento em nossas vidas; o altar, mesa da partilha, da doação e do pão repartido. Todos somos convidados a ocupar esses três primeiros lugares. Eles são fontes de graças para a nossa caminhada pessoal, familiar e grupal.

Para finalizar, o Tempo da Quaresma nos brinda com a Campanha da Fraternidade: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). A figura do bom samaritano lança luzes para a nossa vivência quaresmal, tornando-se um grande desafio para as nossas vidas e de nossas Fraternidades: como ser um bom samaritano nos dias de hoje? A realidade hodierna está repleta de samaritanos deixados ao longo do caminho. É só ter um olhar diferente, se aproximar, gastar tempo, modificar nossos compromissos… “Peregrinos, aprendemos nesta estrada o que o ‘bom samaritano’ nos ensinou: ao passar por uma vida ameaçada, ele a viu, compadeceu-se e cuidou” (refrão do hino da campanha), porque o próximo é todo aquele de quem nos aproximamos.

Neste peregrinar, permaneçamos com olhos fixos na grande festa da Páscoa, coroamento desse tempo quaresmal. Caminhemos em direção àquele acontecimento central de nossa vida cristã com inabalável fé, alegre esperança, perseverante caridade e compromisso de tornar o mundo um pouco melhor. Que assim seja!”