Em uma situação desafiadora, quando há desmotivação, na solidão ou diante da dúvida, a esperança pode ser tornar fonte de força. A palavra tem origem no latim “spes”, que significa “expectativa” ou “confiança”. E a vida de São Marcelino Champagnat, ilumina como um farol os aprendizados sobre esse sentimento.

 

Afinal, ao longo de sua trajetória, o Fundador enfrentou grandes crises pessoais que refletiram no Instituto Marista, porém a esperança sempre guiou o seu trabalhou e dos primeiros Irmãos. Confira a seguir alguns dos episódios mais marcantes dessa trajetória marcada pela fé e solidariedade.

 

Esperança e o Instituto Marista

A partir de 1836, Champagnat realizou diversas tentativas para obter a autorização legal do Instituto, que só aconteceu efetivamente em 1850. Esse percurso alterou sensivelmente a saúde do bom Padre e, apesar dos desafios, manteve uma postura confiante:

 

“Com certeza, desejam saber em que situação se encontram nossas diligências. Pois bem, eu mesmo não sei quase nada, ou melhor, sei tudo: isto é, antes eu andava desconfiado, hoje tenho certeza: não querem nos conceder nada. Estou muito triste, mas não desanimado. Tenho sempre confiança ilimitada em Jesus e Maria. Cedo ou tarde obteremos nossa autorização, não tenho dúvida. Só não serei quando. Agora, o importante é fazer, de nossa parte, o que Deus quer, isto é, fazer o nosso possível, e depois esperar tranquilos, deixando a Providência agir. Deus sabe melhor do que nós aquilo que nos convém. Tenho certeza de que um pouco de espera não nos será prejudicial”.

 

Mesmo tendo falecido sem acompanhar essa efetivação, Marcelino ainda reconheceu no leito de morte que a concessão aconteceria no momento mais propício. E que se tivesse ocorrido precocemente teria restringido parte do trabalho desenvolvido pelo Instituto.

 

Deus na direção

Em fevereiro de 1823, o Ir. João Batista de Bourg-Argental estava muito doente e Champagnat não quis deixar seu filho morrer sem vê-lo mais uma vez e dar-lhe bênção. Após conseguir abençoar o Irmão, decidiu retomar à Lavalla, porém a neve dominava as estradas na ocasião, e mesmo contrariado decidiu seguir o seu percurso.

 

Em menos de duas horas, acompanhado do Ir. Estanislau, se perderam e ficaram vagando. O Irmão sentiu-se exausto e Marcelino teve que tomá-lo pelo braço para não o deixar cair. Mas dali a pouco, até ele, vencido pelo rigor do frio e sufocado pela neve, sentiu-se desfalecer e teve de parar:

 

“Meu amigo, estamos perdidos, se Maria não nos socorrer. Recorramos a ela e supliquemos-lhe que nos salve a vida em perigo neste mato e no meio da neve”.

 

Nesse instante, sentiu a mão do irmão escorregar, caindo desmaiado. Cheio de confiança, o Fundador se ajoelhou e rezou o Lembrai-vos com sentido fervor:

Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria,

que nunca se ouviu dizer que algum

daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção,

implorado a Vossa assistência e reclamado o Vosso socorro,

fosse por Vós desamparado.

 

Animado eu, pois, de igual confiança,

a Vós, Virgem entre todas singular,

como a Mãe recorro, de Vós me valho,

e, gemendo sob o peso dos meus pecados,

me prostro aos Vossos pés.

Não desprezeis as minhas súplicas,

ó Mãe do Filho de Deus humanado,

mas dignai- Vos de as ouvir propícia

e de me alcançar o que Vos rogo. Amém.

 

Ao finalizar, ergueu o companheiro para tornarem a andar. Não tinham dado dez passos, quando vislumbraram, na escuridão da noite, uma luz a certa distância. Seguiram rumo ao sinal e pernoitaram no local. Muitas vezes Champagnat afirmou que, se o socorro não tivesse chegado naquele exato momento, ambos estariam perdidos. A Santíssima Virgem os salvara de morte certa.

 

A esperança na continuidade do seu legado

O agravamento das condições físicas do santo Padre preocupava os Irmãos. Isso porque, tinham receio de que seu desaparecimento paralisasse o desenvolvimento de sua obra. Porém, Champagnat nutria de forma convicta a ideia que tradição Marista não dependeria de sua figura, como expresso nos trechos a seguir:

 

“A gente é apenas um instrumento, ou melhor, não é nada; Deus é quem faz tudo. Você (Ir. Estanislau) deveria compreender essa verdade, pois está entre os veteranos e presenciou as origens do Instituto, acaso a Providência não cuidou sempre de nós? Não foi ela que nos congregou e nos fez triunfar de todos os obstáculos? Forneceu-nos recursos para construir esta casa, abençoou nossas escolas e lhes deu prosperidade, embora fôssemos gente sem talento. Em suma, não foi a divina Providência que tudo realizou entre nós? Ora, ela cuidou do Instituto até hoje, porque não cuidaria dele no futuro? Pensa, acaso, que Ela deixará de protegê-lo, por causa de um homem a menos? Desiluda-se, repito, os homens não contam para esta obra. Deus a abençoará, não por causa dos homens que a dirigem, mas por causa da sua infinita bondade e dos desígnios de misericórdia em favor dos meninos e nós confiados”.

 

“Coitado do Irmão (Ir. Estanislau), disse-lhe um dia. Você não tem muita fé e confiança em Deus! Pensou então, que a prosperidade da casa dependia de mim. Pois olhe, garanto que após minha morte, tudo andará melhor do que até agora. Os progressos da Congregação serão mais rápidos do que nunca. Um dia reconhecerá a verdade do que lhe afirmo e, então, compreenderá que nunca devemos pôr nossa confiança nos homens, mas em Deus que é tudo e faz tudo”

 

Os ensinamentos da trajetória de Marcelino são exemplos que mostram como a esperança é um recurso a ser exercitado em nosso cotidiano!

 

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