Dando continuidade à etapa atual da campanha Prioridades do Triênio, focada no tema “Cultura, animação vocacional e vida consagrada”, apresentamos mais uma entrevista repleta de inspiração e ensinamentos. Desta vez, é o Ir. Anacleto Peruzzo que conta a história de seu chamado vocacional e que nos deixa uma mensagem. Ele foi um dos integrantes da equipe que acompanhou os jovens Irmãos no Itinerário de Formação em Preparação aos Votos Perpétuos, realizado na Guatemala, de fevereiro a abril deste ano.

A cada partilha de uma nova experiência, podemos notar a importância da acolhida e dos testemunhos que presenciamos pelo caminho. 

Poderia nos contar um pouco de como foi o momento em que sentiu chamado para a vocação religiosa? Como era sua vida naquela época?

Ir. Anacleto: Para mim, a descoberta da minha vocação é toda uma caminhada, que evidentemente teve um momento forte de decisão na minha adolescência. Mas ainda hoje, procuro aprofundar o que Deus está pedindo de mim neste momento da minha vida. Foram muitos ‘sins’ ao longo da minha caminhada, e outros ainda deverei dar. 

No período da adolescência, eu tinha vários projetos, ideias e pensamentos que desejava abraçar. Eu me questionava muito sobre minha caminhada, o que iria fazer de minha vida, que caminhos tomaria, qual seria minha profissão, que estilo de vida levaria. Mas também me perguntava profundamente sobre o que Deus queria de mim. E foi seguindo esta inquietação interior que resolvi apostar minha vida e construir o meu projeto de vida. A decisão vocacional não foi fácil, já que várias coisas estavam em jogo naquele momento. Mas lembro que algo interiormente me inquietava, me impulsionava e me lançava a seguir por um caminho que Deus estava me chamando, que era de entregar-me para o serviço do próximo.

Sou grato a minha família e à Igreja local, que me ofereceram os meios necessários para que eu pudesse crescer na vida espiritual, fonte de todo o chamado vocacional. Lembro que o ambiente familiar era muito positivo, de trabalho, de dedicação ao próximo, de amor à Igreja, com o testemunho de meu pai como ministro de Eucaristia, de minha mãe de oração constante, de meus irmãos envolvidos com grupos de jovens e outros trabalhos na comunidade, me motivavam a também a me colocar a serviço da comunidade.   

Na verdade, como adolescente, nunca havia pensado e imaginado que um dia gastaria minha vida como Irmão Marista. Aquilo que estava no meu radar era ser franciscano, justamente pelo fato de os freis da Ordem Menor dos Franciscanos atenderem minha comunidade e frequentarem minha família. Como o discernimento com os freis não avançou, pintou naquele momento na minha escola o Irmão Marista animador vocacional da região de Chapecó (SC). Realizei o Encontro Vocacional, e em questão de meses, estava iniciando o processo formativo.

Como a vivência com outros Maristas contribuiu em sua trajetória pessoal?

Ir. Anacleto: O processo formativo do Aspirantado (Juvenato), do Postulado, do Noviciado e do Escolasticado foram fundamentais para aprofundar as minhas motivações, para me conhecer melhor, para conhecer melhor o Instituto Marista e este me conhecer também. E para aprofundar os desejos de Deus a meu respeito. É claro que essa caminhada a gente não foi realizando sozinho. Nos nutrimos da vivência fraterna, da espiritualidade, do aprofundamento acadêmico, do contato direto com as crianças e jovens, no acompanhamento e testemunho dos Irmãos, principalmente dos formadores. Tudo me foi encantando, dando certezas, lançando luzes para a minha caminhada. E, aos poucos, fui me enamorando pelo jeito Marista de servir a Deus. Principalmente às crianças e aos jovens. 

A convivência com muitos Irmãos e Leigos foram, sem dúvida, essenciais para minha decisão e solidificação vocacional. O fato de ter partilhada a vida com Irmãos dos cinco continentes, em diversas ocasiões, mas principalmente no colégio internacional em Roma, me ajudaram a perceber a riqueza e a amplitude do Instituto Marista. Em outras ocasiões, tive a oportunidade de participar de formações conjuntas com Irmãos e Leigos a nível de Instituto, e perceber a beleza da vida, da fé, da vocação, da missão e da fraternidade partilhada na vida Marista. Bem como as duas experiências vividas na Bolívia e agora na Guatemala, por ocasião dos Itinerários Formativos em preparação aos Votos Perpétuos, realizada pelos jovens Irmãos, me encharcaram de amor pela diversidade cultural destes países, mas principalmente pelo jeito Marista de viver nestas diferentes realidades e culturas. É uma riqueza imensa que temos no Instituto Marista, perceber que onde existe um Irmão, aí tenho eu minha casa. E sou muito agradecido à Província Marista, por ter me oferecido estas oportunidades de cumprir minha missão, e de conhecer o carisma Marista em diferentes realidades e culturas. Isto também suscitou em mim a vivência de um coração sem fronteiras. 

Sou muito grato também pelos Irmãos e Leigos que o Senhor colocou em meu caminho nesta Província Marista, principalmente por aqueles que tive a graça de partilhar a vida e a missão. É com meus Irmãos e Leigos de caminho que divido as alegrias da trajetória, os desafios da missão, as esperanças, mas também as lágrimas das dores e da miséria humana. Sempre encontrei Irmãos e Leigos compreensivos, abertos. E, principalmente, testemunhos alegres da vocação e da missão que abraçaram, que são inspiração para a minha caminhada vocacional. 

A confiança em Maria é outro elemento que gostaria de destacar. Sempre depositei nas mãos de Maria, a Boa Mãe, minha caminhada vocacional. E nos momentos mais difíceis, foi nela que encontrei luz e proteção.  

Pensando no tema atual da campanha das Prioridades do Triênio, gostaria de deixar alguma mensagem aos jovens e aos colaboradores que atuam junto às juventudes na animação vocacional? 

Ir. Anacleto: O chamado é uma iniciativa gratuita da parte de Deus. A partir de um impulso interior de cada pessoa, ela vai respondendo de maneira consciente ao Seu plano de amor. Deus não impõe condições e nem olha para o aspecto exterior da pessoa, mas fala diretamente ao coração. O chamado é um dom, uma graça para cumprir uma missão em favor da comunidade. Mesmo que se desenvolva e cresça na intimidade de cada um, é um dom a ser partilhado. Assim como Maria, que ao dar seu sim a Deus, vai às pressas para servir sua prima Isabel. 

O discernimento vocacional vai ficando mais claro a partir do momento que eu abraço uma caminhada de fé, num diálogo com Deus, com um compromisso com à Igreja e ouvidos e olhos atentos aos clamores do mundo. Por isso, é importante sondar constantemente aquilo que Deus espera de cada um. E estar atento às suas manifestações, a partir daqueles que estão ao nosso redor, que podem ser nossa família, nossos amigos, nossa comunidade, colegas de trabalho e de estudos. Deus chama a cada um com sussurros e com gritos.  

Para os Leigos Maristas, a cultura vocacional se difunde com gestos simples, como começar a prestar a atenção nos movimentos de Deus que vão acontecendo no interior das pessoas, principalmente dos jovens. O interesse por eles, uma escuta atenta de suas vidas, poderá despertá-los e incentivá-los para que ofereçam o melhor de si mesmos na construção de um mundo melhor. E, quem sabe, justamente no caminho de consagração como Irmão Marista.  

Para nós Irmãos, assumir nossa opção de consagrados com alegria, e sermos testemunhos de fraternidade, é contribuir para criar uma cultura vocacional. O próprio jovem também tem um papel fundamental na criação da cultura vocacional e no discernimento vocacional de outros jovens, a partir do momento que sabe escutar e incentivar outros jovens a seguirem o caminho que Deus vem lhes chamando.  

Dentro do carisma Marista, existe espaço para todos. E é um caminho pelo qual vale a pena doar a própria vida. O jovem ou Leigo que deseja contribuir para a construção de um mundo melhor, encontra na vida Marista valores importantes para fazer a sua caminhada e cumprir a sua missão neste mundo. 

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